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A volta dos profissionais

Há uma tendência de crescimento moderado de buscas no Google Brasil pelos termos “manifestação”, “impeachment” e “protesto”. Mas nada parecido com as vésperas da grande manifestação de um ano atrás, ainda. Já a procura pela expressão “vem pra rua”, nas suas várias grafias, continua onde sempre esteve nesses 12 meses: tão baixa que mal se vê. Os focos maiores de movimentação nas redes estão em São Paulo, Distrito Federal e Rio de Janeiro.

Por José Roberto de Toledo
Atualização:

As buscas por essas palavras no Google foram um bom termômetro das manifestações em 2015. O pico virtual de março foi três vezes maior do que o de agosto, e seis vezes superior ao de dezembro. Nas ruas, a proporção de manifestantes foi similar. É cedo, porém, para prever qual será o tamanho dos protestos pelo impeachment de Dilma Rousseff no domingo. O crescimento costuma ser abrupto, se intensifica nos últimos dias antes do evento.

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Seja como for, há diferenças fundamentais deste protesto em relação aos anteriores. Pela primeira vez, os partidos de oposição estão francamente engajados na sua organização. Se, há um ano, limitaram-se a olhar da janela com uma camisa amarela, desta vez caciques do PSDB estão convocando não só militantes, mas eleitores de modo geral, valendo-se de meios eletrônicos.

Autoridades tucanas prometeram segurança aos que pretendem protestar mas, eventualmente, estão temerosos de conflitos violentos com governistas e petistas, que, em algumas cidades, também ensaiaram ir para as ruas no mesmo dia. Em São Paulo, o governador Geraldo Alckmin proibiu demonstrações a favor de Dilma e de Lula na Avenida Paulista, pois é lá que os oposicionistas marcaram de se reunir já faz meses.

O trem pró-impeachment espichou, e os movimentos exóticos que deram a cara aos protestos enquanto os partidos de oposição não queriam correr o risco de se expor vão ser empurrados para os vagões de trás. Acabaram-se as preliminares: seja um sucesso, um fracasso ou meio a meio, a locomotiva da manifestação de domingo são os partidos, e os maquinistas, os políticos profissionais.

O PSDB e seus caciques pretendem capitalizar ao máximo os eventos de domingo. E não é só para apressar a desestabilização do governo e tentar precipitar a saída de Dilma do poder. O objetivo é usar as manifestações para apresentarem-se como a saída no fim do túnel. Não são os únicos, porém.

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Na véspera, o PMDB também fará seu principal movimento para começar a sair de Dilma para entrar na história – e, se der certo, voltar ao governo com a faca e o queijo na mão. A reeleição do recém-calado Michel Temer como presidente do partido deve catalisar os divididos peemedebistas em torno de duas palavras: independência e união. Independência para votar como cada deputado e senador quiser (sem obediência ao líder do governo) e união para se contrapor aos polarizados PT e PSDB.

É, obviamente, uma aposta na transição pelo impeachment da presidente e só dela. Os peemedebistas sabem que precisam se antecipar ao julgamento da chapa que elegeu Dilma e Temer pelo Tribunal Superior Eleitoral, ou correm o risco de se verem cassados junto com os petistas. Mas, para mudar a contabilidade na Câmara e no Senado e garantir os votos necessários para apear Dilma, também Temer e companhia dependem da pressão das ruas.

Assim, a manifestação de domingo é fundamental para os planos tanto do PSDB quanto do PMDB de voltar ao centro do poder. Se for contabilizada aos milhões, tucanos e peemedebistas terão andado muitas casas rumo ao mesmo objetivo. Uma contagem em centenas de milhares será uma vitória, mas não definitiva. Qualquer outra unidade de medida equivalerá a um retrocesso.

Tudo isso, é claro, se as delações de Delcídio Amaral não forem premiadas nem forem corroboradas por outras provas. Ou haverá protestos contra os protestantes.