A um ano das eleições, crise econômica e saúde dominam debate político

Desemprego, inflação e pandemia dão o tom no discurso de presidenciáveis em meio ao desgaste do governo Bolsonaro

Por Marcelo de Moraes
Atualização:

Em 2018, Jair Bolsonaro e uma leva de novatos na política conseguiu triunfar nas urnas com discurso de outsiders. Com fortes críticas às práticas políticas tradicionais, como o toma lá dá cá de emendas e cargos, e aos casos de corrupção, deram o tom da campanha e se elegeram. Três anos depois, esse cenário já não existe mais. Com o governo Bolsonaro fortemente desgastado pelo negacionismo no combate à pandemia do coronavírus, pelos problemas na economia e por aderir ao mesmo fisiologismo que criticara, o jogo político mudou completamente.

A exatamente um ano das próximas eleições, que acontecerão no dia 2 de outubro, as principais discussões políticas centram suas atenções na pandemia, que causou quase 600 mil mortes, e nos problemas da economia, como a disparada da inflação, o desemprego e o aumento da extrema pobreza. E, numa antecipação da campanha eleitoral, esses temas já dominam os discursos dos principais candidatos que botaram seu bloco na rua com um ano de antecedência.

Dúvidas do Exército sobre urnas eletrônicas tinham natureza técnica e não emitiam juízo de valor, disse o TSE. Foto: Antonio Augusto/secom/TSE

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O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva tem se aproveitado dessa mudança de vento na política. Líder nas pesquisas, tem o desafio de provar que o sentimento antipetista do eleitoral não será mais uma força poderosa na disputa de 2022. Como efeito dos escândalos do mensalão e dos desvios bilionários da Petrobras, os petistas acumularam um grande desgaste, que chegou ao seu auge com o impeachment de Dilma Rousseff, em 2016. Esse problema causou a derrota dos principais candidatos do partido e ajudaram a impulsionar a chamada nova política.

Preso em 2018 pela acusação de envolvimento em corrupção, Lula não pôde concorrer ao Planalto e viu Fernando Haddad ser batido por Bolsonaro. Dois anos depois, nas eleições municipais, o bolsonarismo foi derrotado nas principais capitais justamente pelo desgaste do presidente causado pelo negacionismo no combate à pandemia e pela adesão às práticas políticas que condenara. Mas nem por isso o petismo se reabilitou. Pelo contrário. O partido não conseguiu eleger nenhum prefeito de capital.

Agora, os erros cometidos pelo governo Bolsonaro abriram um campo para que Lula – que teve seus direitos políticos recuperados – voltasse a atrair o interesse do eleitorado. E ele tem criticado o governo duramente especialmente em relação à volta da pobreza, do alto desemprego e da inflação.

Outros candidatos também têm investido nesses temas. O governador de São Paulo, João Doria, quer capitalizar seu esforço para garantir as vacinas da Coronavac e já é chamado em seu jingle de campanha de “João vacinador”. Além disso, tem procurado mostrar que enquanto a economia nacional vem capengando, em São Paulo a situação é outra.

“O Estado de São Paulo gerou um em cada três empregos do Brasil em 2021. Com 22% da população do País, São Paulo foi responsável por 32% dos novos empregos gerados este ano”, cita o tucano, se referindo aos dados do Caged.

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Se Doria critica o governo de Bolsonaro, também admite que vai priorizar o discurso antipetista na sua campanha, retomando a associação de Lula com a corrupção.

Embora reconheça todos esses problemas, outro pré-candidato do PSDB, o governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite, tem uma visão diferente. Ele acha que depois de todos os problemas causados pela pandemia e com a crise econômica só piorando, a prioridade precisa ser a reconstrução do País e não mais briga entre os candidatos.

“Neste 2 de outubro estamos a um ano da eleição. E não dá para ficar esse ano inteiro brigando. O impeachment resolve os problemas de hoje, mas não resolve os problemas de amanhã se continuarmos em conflito. Ninguém vai ganhar se o vencedor não for o Brasil. Por isso, neste tempo que temos pela frente, é preciso construir uma alternativa real, concreta e coletiva de união e paz para o País. E esses 365 dias são mais do que suficientes para isso”, disse Leite ao Estadão.

Apesar de todo o desgaste acumulado, Bolsonaro ainda tem conservado uma base fiel em torno de 20% que pode assegurar sua passagem para o segundo turno. Mas interlocutores do presidente reconhecem que a disparada dos preços disparando e o aumento da pobreza reduzem demais suas chances de reeleição. Por isso, garantir a redução de preços dos combustíveis e do gás, entre outros, passou a ser prioridade no Planalto. Mas os bolsonaristas também admitem a preocupação com a perspectiva de baixo crescimento econômico para este ano e para 2022. Havia a expectativa de retomada da economia justamente no ano eleitoral, mas esse cenário se desfez. O plano do governo, agora, é garantir que Bolsonaro chegue na disputa eleitoral sem se inviabilizar por conta da rejeição e reassuma, num eventual segundo turno, o papel de candidato anti-Lula.

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