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‘A perita diz que as assinaturas foram feitas no mesmo momento’

Entrevista com Fred Vargas, escritora francesa

Por Andrei Netto e de O Estado de S.Paulo
Atualização:

PARIS - De posse das cópias dos originais, a escritora Fred Vargas sustenta, em entrevista exclusiva ao Estado, uma teoria da conspiração: o procurador do caso, os advogados e o ex-chefe de Cesare Battisti no grupo extremista teriam sacramentado um acordo para levá-lo a julgamento, no qual seria mais tarde inculpado por quatro crimes e condenado à prisão perpétua.

 

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Você tem suspeitas sérias sobre as procurações usadas pela Justiça da Itália para levar Battisti aos tribunais.

 

Em 1981, Cesare Battisti fugiu da prisão. Antes de deixar o país, deixou para trás, com Pietro Mutti, em quem ele confiava, folhas assinadas para o caso de haver um processo por sua fuga. Foram sete a dez folhas, o que explica o fato de existirem assinaturas verdadeiras. Essas assinaturas seriam usadas mais tarde para fraudar três procurações, em 1982, por duas vezes, e 1990, que permitiram que ele fosse julgado sendo representado apenas por advogados, sem estar presente. Mas é o fato mais importante é o de que as assinaturas foram feitas no mesmo momento.

 

Então as três procurações usadas foram fraudadas?

 

São falsificações usadas a partir da colaboração de "arrependidos", beneficiados pela delação premiada. Quando você observa os documentos, vê imediatamente que são uma boa ideia, mas muito mal feita. Eu mandei fazer perícias nesses documentos e a perita dias que as três assinaturas foram feitas no mesmo momento e não com diferença de oito anos como alega a Justiça da Itália.

 

Onde estão os originais?

 

Estão em um cofre bancário. Ninguém mais tem acesso. São posse da Justiça italiana, ou da Justiça francesa, não sei. Não estão em minhas mãos.

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A acusação é grave e pressupõe envolvimento de várias pessoas.

 

Sim, é grave. Para que essas fraudes pudessem acontecer, foi necessário que tenha acontecido um acordo entre aquele que tinha as folhas em branco assinadas, Mutti, beneficiado pela lei dos arrependidos, o magistrado que vai aceitar as falsificações, Armando Spataro, e os advogados nomeados para defender Battisti, Guiseppe Pelazza e Gabrieli Fuga, que nessa época estavam sob pressão do governo italiano. Havia um magistrado de acordo, advogados sob pressão e um "arrependido". Não é difícil imaginar que Battisti seria incriminado por um acordo entre eles.

 

Battisti e Mutti foram companheiros. Por que ele o trairia?

 

Nos anos 80 começavam os julgamentos dos "arrependidos" (os guerrilheiros que aceitam a proposta de rendição feita pelo governo italiano). Pietro Mutti, nessa época, já detesta Battisti, porque para ele Battisti era um traidor à causa, por não ter querido voltar à luta armada após sair da prisão. Daí o fato de não ter escrúpulos em sobrecarregar seu companheiro.

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