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A íntegra do discurso de FHC em cadeia nacional de rádio e TV

Por Agencia Estado
Atualização:

O presidente Fernando Henrique Cardoso fez hoje, em pronunciamento em cadeia nacional de rádio e televisão, um apelo à população para que reduza em 20% o seu consumo de energia, conforme previsto no plano de racionamento anunciado hoje. Leia a íntegra do pronunciamento: Boa noite. Nos últimos seis anos, tenho me dirigido ao país, a cada um de vocês, sempre que senti a necessidade de mostrar desafios grandes, caminhos novos, perigos à vista ou vitórias alcançadas pelo povo. Hoje, uma vez mais, peço a sua atenção para um novo desafio: o de vencermos a escassez transitória de energia elétrica em algumas regiões do país. O aumento do consumo de energia ocasionado pela retomada do crescimento da economia e pela expansão do seu uso nas casas é um sinal positivo de um país que volta a crescer. Nossa eletricidade sempre dependeu das hidrelétricas. Noventa e dois por cento da energia que utilizamos provêm dos reservatórios das hidrelétricas. E, independentemente das críticas, algumas justas, sobre erros na condução da política energética e de falta de previsão no uso dos reservatórios de água, o fato é que houve drástica redução das chuvas na Região Sudeste, que representa 70% da capacidade de armazenagem de águas de todo o país. Diante dessa situação, como Presidente, tenho a responsabilidade pela mobilização nacional necessária para reduzirmos o uso de energia e para racionalizarmos sua utilização nos lares, nas fábricas, nas ruas, em toda parte. Hoje, foram divulgadas as metas para essa operação nas Regiões Sudeste, Nordeste e Centro-Oeste. A meta a ser atingida será, na média, de 20% de redução no consumo geral, o que não é pouco. Mas não há como amenizar esse esforço. Mas nosso povo já passou por provações maiores. E, para enfrentá-las, eu nunca deixei de falar com franqueza ao país. Foi assim quando derrubamos a inflação. Foi assim quando enfrentamos as crises econômicas vindas do México, da Ásia, da Rússia e quando, em 1999, fomos obrigados a desvalorizar o real. Naquelas ocasiões, não faltaram os pessimistas que previram catástrofes: a volta da inflação, a recessão econômica e o desemprego crescente. Mas o povo soube organizar-se, ter paciência e vencer obstáculos. Será assim também agora. Pouparemos a energia que consumimos, se nos organizarmos, se continuarmos investindo até que novas chuvas cheguem e venceremos outra vez. Já afastei as multas e o ?apagão?. Eu prefiro confiar no povo. Para resolver a situação atual de emergência, o engajamento de cada um de vocês é parte da solução. E, para que tudo dê certo, além do trabalho incessante do governo, é preciso que você instrua seus filhos, sua família, incentive seus amigos e tenha uma atitude responsável. Será bom para o Brasil e para você que se crie a mentalidade da conservação, do uso racional da energia e do combate ao desperdício em geral. E não apenas agora, nessa hora de combate à escassez, mas permanentemente. Dispomos de capacidade para gerar energia. O que nos falta é combustível, é a água. Continuaremos construindo linhas de transmissão de energia para trazê-la das regiões onde há abundância de água para as mais carentes. Mas isso leva tempo. Continuaremos providenciando e, agora, com mais rapidez, a construção de usinas movidas a gás. Mas isso também leva tempo. Portanto, precisaremos usar responsavelmente a energia elétrica disponível. Eu disse que afastei a hipótese do corte de energia porque ele causaria males enormes a você e ao país. Afastei-a porque confio em nosso povo. Os brasileiros saberão racionalizar seu uso. Mas isso será indispensável, se quisermos afastar, definitivamente, o risco do ?apagão?. Por isso, o governo definiu, hoje, as metas que cada um de nós deve cumprir nesse esforço nacional. Incentivaremos com bônus de redução de preço as famílias que pouparem além da meta de 20% de redução de consumo. Para os pequenos consumidores que pouparem, a conta poderá até ser gratuita. Pouparemos de sacrifício maior cerca de 93% das famílias, as de menor renda e menor consumo, cujas tarifas não serão alteradas. Cobraremos mais dos que, tendo mais renda, gastarem mais, o que não os vai dispensar de cumprir suas metas. Com os recursos desse custo excedente, compensaremos os mais pobres que tiverem poupado. Assim, todos, todos mesmo, participarão do esforço nacional, mas cada um de acordo com suas possibilidades. Não esmoreceremos. Com força e criatividade, dialogando sempre, unidos, tenho certeza de que o país vencerá uma vez mais. Superaremos mais este desafio. E eu conto com você. Podem contar comigo. Muito obrigado e boa noite.

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