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O jogo da democracia no Brasil e no mundo

A gente não quer só dinheiro

Estudo do Insper mostra que a queda da desigualdade no Brasil no início deste século depende de um conjunto de políticas bem estruturadas que garantam uma vida digna

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Por João Gabriel de Lima
Atualização:

Bolsa do Povo, Vale Gás, Auxílio Brasil. Como o Estadão mostrou nesta semana, em reportagem de Adriana Ferraz e Davi Medeiros, programas de transferência de renda para a população vulnerável multiplicam-se pelo País. Eles são bem recebidos na emergência econômica em que vivemos, em que os brasileiros sofrem com a inflação e o desemprego em alta. Pelo mesmo motivo, rendem votos num ano eleitoral.

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Surge a pergunta: para além de resolver carências imediatas, até que ponto tais programas são eficazes em combater pobreza e desigualdade, nossos flagelos históricos, no médio e longo prazo?

A resposta passa pelo grupo de estudiosos que, desde os anos 1990, vêm elevando o nível do debate sobre o assunto no Brasil. Um dos principais integrantes da turma, Ricardo Paes de Barros, pesquisador do Insper, acaba de lançar, em parceria com vários acadêmicos, um estudo sobre a queda da desigualdade no Brasil no início deste século. PB, como é conhecido, e Laura Muller Machado, ambos do grupo de autores do estudo, são os entrevistados do minipodcast da semana.

Conjunto de políticas públicas somam o que os pesquisadores chamam de renda não-monetária Foto: Agência Brasil

PB colaborou com os governos de Fernando Henrique, Lula, Dilma e Temer. Em reportagem publicada na revista piauí, “Um liberal contra a miséria” – referência à sua formação na Universidade de Chicago – PB sugere que tal batalha deve transcender os debates entre “esquerda” e “direita”, dada a magnitude da questão. 

Um dos méritos do novo estudo é mostrar, com mais clareza que trabalhos anteriores, a importância do que os pesquisadores do Insper chamam de renda não-monetária. Eles calcularam o valor de políticas sociais, como saúde e educação, no orçamento dos cidadãos vulneráveis. Benefícios como distribuição de remédios e material escolar também foram computados. Ou seja, não é só dinheiro. O que faz diferença é todo um conjunto de políticas bem estruturadas que garantam uma vida digna.

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De acordo com os cálculos dos pesquisadores, o índice de Gini, principal métrica de desigualdade, recuou 3 pontos entre 2002 e 2017, o período de abrangência do estudo. Pelo menos 1 desses 3 pontos se deve a políticas públicas. “O gasto social do Brasil se elevou de R$ 372 bilhões para R$ 698 bilhões no período estudado, em valores corrigidos”, diz PB. “A diminuição na desigualdade mostra que tal investimento teve um retorno efetivo”. 

Os autores admitem que o gasto social brasileiro poderia ser mais eficiente. Nosso País, no entanto, já foi referência mundial em diminuição de pobreza e desigualdade. Os responsáveis por essa façanha – PB e seu time entre eles – são bem-vindos ao debate eleitoral que acaba de começar.

Para saber mais

Mini-podcast com Ricardo Paes de Barros e Laura Muller Machado

Resumo do estudo do Insper sobre a desigualdade

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Webinário sobre o estudo do Insper mediado por Laura Muller Machado

Reportagem do Estadão sobre programas de transferência de renda

ESCRITOR, PROFESSOR DA FAAP E DOUTORANDO EM CIÊNCIA POLÍTICA NA UNIVERSIDADE DE LISBOA

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