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À CPI, Hang nega fraude em atestado de óbito da mãe e fala em ‘erro’ de plantonista

Em sessão tumultuada, empresário afirma que achou ‘estranho’ ausência da menção à covid em documento

Foto do author Julia Affonso
Foto do author Daniel  Weterman
Por Julia Affonso e Daniel Weterman
Atualização:

BRASÍLIA – O empresário Luciano Hang negou nesta quarta-feira, 29, durante a Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Covid, no Senado, ter participado de fraude no atestado de óbito de sua mãe, Regina Hang. A irregularidade foi revelada pelo Estadão. Ele disse ter achado “estranho” a ausência de menção à covid no documento, mas apontou um “erro” de um plantonista de um hospital da rede Prevent Senior, em São Paulo, onde ela ficou internada para tratar a doença.

Luciano Hang foi ouvido em uma sessão tumultuada que durou cerca de 6 horas. A audiência chegou a ser interrompida por 40 minutos após o senador Rogério Carvalho (PT-SE) acusar um advogado do empresário de desacatá-lo.

Durante o depoimento, Hang declarou ter contas no exterior e offshores em paraíso fiscal. Ele negou que tenha financiado a disseminação de fake news.

O empresárioLuciano Hang durante depoimento à CPI da Covid Foto: Dida Sampaio/Estadão

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À CPI, Hang confirmou que sua mãe fez o chamado "tratamento precoce", com medicamentos com ineficácia comprovada contra a covid, como hidroxicloroquina e azitromicina, antes de ser internada. O empresário também disse ter autorizado a aplicação de um tratamento experimental, a ozonioterapia, em Regina Hang. A técnica administra uma mistura de oxigênio e ozônio no corpo por diversas vias e não tem comprovação científica para a covid. A ozonioterapia não é um procedimento reconhecido para uso médico no País, segundo o Conselho Federal de Medicina (CFM).

A mãe do empresário morreu em 3 de fevereiro. Médicos que acusam irregularidades na operadora de saúde afirmam que a declaração de óbito de Regina Hang foi fraudada na rede e a covid foi omitida do documento. Os denunciantes afirmam que esta seria uma de diversas subnotificações de casos da doença na rede.

A certidão de óbito da mãe do empresário não menciona a doença. A causa morte é descrita como “disfunção de múltiplos órgãos, choque distributivo refratário, insuficiência renal crônica agudizada, pneumonia bacteriana, síndrome metabólica, acidente vascular isquêmico prévio”.

Aos senadores, Luciano Hang disse que, como leigo, não sabe as informações que deveriam constar da certidão de óbito. “Fiquei sabendo através da CPI que tanto o atestado de óbito quanto o prontuário da minha mãe foi pego e lá no atestado de óbito não constava covid”, disse. “Fiquei sabendo aqui na CPI que não estava com o nome lá certinho, aí procurei o Prevent Senior.” 

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O empresário apresentou à CPI um documento da Comissão de Controle de Infecção Hospitalar, da Prevent Senior. Segundo ele, o registro provaria que a morte de sua mãe foi notificada como covid ao governo federal, apesar de não ser mencionada na declaração de óbito.  “Segundo eles (Prevent Senior), quem preencheu o atestado de óbito foi o plantonista. No dia seguinte (à morte de Regina Hang), existe uma comissão de controle de infecção hospitalar. Essa comissão de controle de infecção hospitalar viu o erro do plantonista”, disse.

A senadora Soraya Thronicke (PSL-MS) perguntou a Hang se ele tomaria alguma medida judicial para reparar a certidão de óbito da mãe. O empresário respondeu que o documento da comissão da Prevent Senior “já era o importante”.

Na avaliação do relator Renan Calheiros (MDB-AL), o depoimento de Luciano Hang foi “muito importante” para a CPI confrontar o empresário com suas postagens e declarações e com documentos oficiais, como a certidão de óbito de Regina Hang. Para o senador Humberto Costa (PT-PE), a ida do empresário à comissão foi positiva “porque ele confirmou tudo”, como, por exemplo, que era contra o isolamento social e favorável ao ‘kit covid’. “Ele é um réu confesso”, disse.

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