À CPI da Petrobrás, Cunha nega acusações e manda recado ao Planalto

'Não vamos aceitar transferir a crise para o outro lado da rua', diz o presidente da Câmara ao sugerir que o pedido de investigação contra ele teve motivação política

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Foto do author Pedro  Venceslau
Por Daiene Cardoso , Daniel de Carvalho e Pedro Venceslau
Atualização:

Brasília - O presidente da Câmara dos Deputados Eduardo Cunha (PMDB-RJ) falou sozinho por quase uma hora à CPI da Petrobrás sem ser interrompido pelos membros da comissão, na manhã desta quinta-feira, 12. Ao ler a petição da Procuradoria-Geral da República (PGR) que solicita investigação contra ele no âmbito Lava Jato, o peemedebista aponta supostas contradições da peça, e fala em "pérolas" do procurador-geral, Rodrigo Janot. "Isso é realmente uma piada", disse, ao repetir que vê motivação política nos pedidos de apuração. A sessão ainda está em andamento. 

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Atacando o que chama de politização do processo, Cunha, que pediu para comparecer à CPI, mandou um recado ao Palácio do Planalto. "Não vamos aceitar transferir a crise para o outro lado da rua". Ao final de sua fala, Cunha foi aplaudido por parte dos que acompanham a reunião. Até o momento, os parlamentares limitaram-se a fazer elogios à sua iniciativa de prestar esclarecimentos ao colegiado. Deputados do PSDB, DEM, PR, PMDB e do PT concordaram não haver provas consistentes contra Cunha e endossaram sua permanência na presidência da Câmara. 

O presidente da Câmara é uma das 50 pessoas contra quem o Supremo Tribunal Federal autorizou investigação em razão de suspeitas de envolvimento no esquema de desvios de recursos da Petrobrás. Depoimentos feitos por delatores aos investigadores da Lava Jato serviram de base para os pedidos de apuração.

A procuradoria mencionou trechos do depoimento do doleiro Alberto Youssef, segundo quem Cunha recebeu propina por um contrato de aluguel de um navio-plataforma das empresas Samsung e Mitsui. O doleiro diz que, por causa da interrupção no repasse dos pagamentos ao PMDB por essas empresas, Cunha teria pressionado as duas companhias por meio de "uma representação" no Congresso, o que ele nega.

Foram considerados ainda depoimentos feitos pelo policial federal Jayme Alves de Oliveira Filho, o Careca, preso em novembro, mas solto alguns dias depois por ordem da Justiça Federal. Ele chegou a dizer que entregou dinheiro a mando do doleiro Alberto Youssef em uma casa no Rio. Tempos depois foi feita uma correção no depoimento e o policial afirmou não ter certeza que a casa para onde o dinheiro foi levado era de Cunha.

"Faço questão de contestar todos os fatos", afirmou o presidente da Câmara. Cunha disse que o inquérito não está sendo aberto para apurar circunstâncias de suposto benefício a agentes políticos e reclamou que não houve investigação de doações de campanha ao senador Delcídio Amaral (PT-MS). Ele ressaltou que as delações não têm depoimentos coincidentes e que o ex-diretor Paulo Roberto Costa não fez menção, por exemplo, a seu nome. "A forma da colocação da petição da PGR é pífia. Incoerências estão em todas as petições", acusou. "O Ministério Público escolheu quem investigar. Não teve critério único para todos", repetiu.

Ele também criticou a tentativa da PGR de criminalizar as doações legais de campanha. "Ilegal é quem pega dinheiro de caixa 2", declarou o peemedebista, citando uma lista de parlamentares do PSD e do PT que receberam recursos da Camargo Corrêa.

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Durante sua fala, Cunha negou que o PMDB tenha indicado nomes para a diretoria da Petrobrás, ao contrário do que defende o Ministério Público Federal. O deputado negou também que o empresário Fernando Soares seja operador do partido no esquema.

A sessão da CPI desta quinta-feira vai ouvir ainda o ex-presidente da Petrobrás José Sérgio Gabrielli. O depoimento está previsto para começar ao final da participação de Cunha. / Colaborou Lilian Venturini

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