''A briga é por votos, não por propostas'', diz especialista

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Por Gabriel Manzano Filho
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Quem assiste a debates como o do domingo na TV Record pode ter a impressão de que os candidatos estão, acima de tudo, apresentando e defendendo propostas. Quem vê o que acontece por dentro da campanha descobre que o verdadeiro nome do jogo é conquistar votos. "Isso é o resultado inexorável, e negativo, da democracia de massas", explica o cientista político Leôncio Martins Rodrigues, da USP. "Os partidos, hoje, não se remetem a um segmento da sociedade: numa eleição eles buscam apoio em todos os segmentos, em centenas de pequenos grupos que pouco têm em comum", diz. A idéia central é que o candidato não deve desagradar a ninguém. "Se não se pode desagradar, não há debate. O candidato diz o que sua pesquisa lhe informa que o eleitor quer ouvir. Isso é péssimo para a democracia." Essa guerra resulta na penca de marqueteiros e assessores entupindo o candidato de dicas nos intervalos do debate - coisa impensável para raposas da velha guarda como Jânio Quadros, Ulysses Guimarães ou Tancredo Neves. "Não é que os candidatos hoje sejam incompetentes ou dependam de ajuda. É que a mídia de massas funciona assim", adverte outro especialista em eleições, Amaury de Souza, diretor da MCM Consultoria. O essencial nesses confrontos, diz ele, é impor a agenda. Quem impõe os seus temas ganha a briga. O veterano senador Pedro Simon (PMDB-RS) olha tudo isso sem entusiasmo. "Política não pode virar um campeonato de quem é melhor artista para conquistar pessoas", diz. Simon tem há seis anos, no Senado, um projeto determinando que os debates sejam sempre ao vivo, sem intervalos, sem marqueteiros, sem muletas. "É como o modelo americano. Lá o debate mostra de fato quem é capaz."

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