6 mil vão a ato ecumênico de apoio a bispo

Participantes se emocionaram durante discursos; greve de fome chega amanhã ao 15.º dia

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Por Tiago Décimo e SALVADOR
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Cerca de 6 mil pessoas, entre religiosos, fiéis, representantes de movimentos sociais, de tribos indígenas e quilombolas, participaram ontem, em Sobradinho (BA), 554 quilômetros a noroeste de Salvador, de um ato ecumênico em apoio ao bispo de Barra (BA), d. Luiz Flávio Cappio. Amanhã completa 15 dias o jejum do bispo, em protesto contra as obras de transposição do Rio São Francisco. A manifestação de apoio começou às 8 horas, enquanto as últimas caravanas chegavam para a celebração, recebidas por músicas religiosas. De acordo com a Articulação São Francisco Vivo, grupos de apoio ao bispo chegaram de todo o interior da Bahia e de outros oito Estados (Alagoas, Mato Grosso, Minas Gerais, Pernambuco, Rio de Janeiro, São Paulo, Sergipe e Tocantins), além do Distrito Federal. O ato começou com discursos inflamados contra a transposição, mas ganhou destaque uma fala menos apaixonada, feita pelo presidente estadual do PT na Bahia, Marcelino Galo. Mesmo se posicionando a favor do bispo e de sua luta, Galo foi bastante vaiado pelos presentes à homenagem a d. Luiz. "Estou aqui para me oferecer como porta-voz para um diálogo entre o bispo e o governo", argumentou, sem sucesso, na tentativa de dissipar os apupos. D. Luiz ouviu atentamente os discursos e, mesmo fragilizado em decorrência da greve de fome (ele só ingere soro caseiro), também discursou. "É a hora de o povo lutar por seus direitos, por suas necessidades", pregou, arrancando aplausos e lágrimas da platéia. "A presença de vocês aqui me faz sentir muito forte", completou. O bispo também recebeu, um por um, todos os que formaram fila para falar com ele. Integrante do Movimento dos Sem-Terra (MST), Emiliana Borges, moradora no município vizinho de Sento Sé, chorava sem parar após falar com d. Luiz. "Conversei com um santo", suspirava ela. "Ele tem uma força maior, um dom divino. Ninguém vai conseguir fazer mal a ele, porque ele luta pela gente, pelo bem." ?GOLE D?ÁGUA? Durante a tarde, uma parte dos manifestantes, carregando potes e latas d?água, foi à Barragem de Sobradinho - que abastece as hidrelétricas de Paulo Afonso, Itaparica e Xingó - para oferecer um "gole d?água" ao São Francisco, em alusão à iminente "morte do rio". D. Luiz foi junto. Lá, benzeu a água da barragem. Segundo dados da Companhia Hidro Elétrica do São Francisco (Chesf), a represa chegou, na quinta-feira, ao menor nível em sete anos: apenas 13% da capacidade. Por causa da estiagem, espera-se que, na próxima quinta-feira, o nível esteja ainda menor: 12,6%. Na volta, d. Luiz voltou a dizer que espera um fim positivo para sua manifestação. "O protesto não tem relação apenas com a minha vida, mas com a dos milhares de nordestinos que têm o rio como meio de vida", afirma o religioso. "Estou esperando uma manifestação do governo." Esta é a segunda greve de fome do bispo. Em 2005, d. Luiz ficou 11 dias sem se alimentar, também contra a transposição do Rio São Francisco, obra que é uma das prioridades do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC).

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