40 mil acompanham posse de Dilma, estima PM

Sob calor e sol intenso, cerimônia teve protestos esvaziados em meio à segurança reforçada

PUBLICIDADE

Foto do author Beatriz Bulla
Foto do author Leonencio Nossa
Por Beatriz Bulla , Ligia Formenti , Talita Fernandes e Leonencio Nossa
Atualização:

Brasília - Sol intenso, protestos esvaziados, rezas de militantes, ciumeira da segurança do Planalto e ego ferido da Polícia Militar marcaram na tarde desta quinta-feira, 1º, a parte pública da posse da presidente Dilma Rousseff. Pela manhã, o Gabinete de Segurança Institucional (GSI) da Presidência da República mandou a polícia ficar longe da Praça dos Três Poderes, "área nobre" da festa popular. Diante do aumento de pessoas no local no começo da tarde, o órgão militar da Presidência recuou da exclusividade e pediu o reforço de policiais.

O comando geral da Polícia Militar avaliou que a presidente conseguiu levar 40 mil pessoas para a Esplanada dos Ministérios, no "momento de pico", estimativa superior às das duas últimas posses presidenciais. A contagem surpreendeu diante dos vazios nos gramados e pistas e de cálculos da própria polícia em eventos recentes. No protesto de 20 de junho de 2013, o maior em Brasília da onda de manifestações daquele ano, por exemplo, a polícia também chegou a 40 mil presentes na área.

PUBLICIDADE

A aposentada Zely Dias, de Salvador, aguardava a passagem do Rolls Royce da presidente na sombra de uma árvore a metros do alambrado. "Cheguei mais cedo para ficar perto da grade, mas vi que não era necessário", disse, cinco minutos antes de Dilma e a filha, Paula, passarem pelo local. Um grupo de manifestantes, o "Revoltados Online" soltou balões negros no gramado e provocou um mal-estar com petistas, que os chamaram de "coxinhas". A polícia não registrou ocorrências de furtos ou brigas.

Sem a chuva e a friagem das festas de 2007 e 2011, o evento desta quinta contou além do calor com o esforço dos diretórios do PT e do PMDB de Goiás e do Distrito Federal no transporte de militantes e simpatizantes. A militância tradicional petista foi substituída, nas margens da pista de acesso do Planalto ao Congresso, por cabos eleitorais munidos de bandeiras do PMDB arregimentados em Riacho Fundo, cidade da periferia de Brasília.

Só 14 diretórios estaduais do PT mandaram ônibus com caravanas para a posse. Em quatro pontos da região central da cidade, 109 ônibus com simpatizantes estavam estacionados, em uma contagem do Estado feita meia hora antes da posse. Destes, a maioria era de Goiás (40 ônibus), cidades satélites de Brasília (21), São Paulo (21), Minas Gerais (8), Rio de Janeiro (4), Espírito Santo (4), Bahia (2), Paraná (2) e Mato Grosso (2). Mato Grosso do Sul, Rio Grande do Sul, Piauí, Tocantins e Santa Catarina também alugaram ônibus. Em uma estimativa preliminar da polícia, eram 43 ônibus.

Entre os simpatizantes vindos em ônibus de linhas regulares estavam os primos índios Caio Kamaiurá, 27 anos, e Leo Kamaiurá, 23, que viajaram três dias com as mulheres, Ceni e Kewe, e dois bebês, do Xingu a Brasília. A família não percebeu a proximidade do Rolls Royce e acabou perdendo um lugar privilegiado próximo da cerca para ver a presidente. "Foi rápido demais", se queixou Leo. Até a passagem da presidente, cinco pessoas tinham desmaiado e contado com a ajuda da Defesa Civil.

A festa de hoje foi mais silenciosa que nas versões anteriores. Entre as exceções estava um grupo de 50 ritmistas comandados pelos mestres de bateria Anderson e Ronaldo, das escolas de samba Aruc e Acadêmicos da Asa Norte, que animaram o público em um trecho do gramado do Congresso. O tom de introspecção ficou por conta de petistas que evitaram gritos e preferiram, em frente ao Ministério da Justiça, outro local de passagem da presidente, fazer orações em prol de Dilma. Um "profeta", numa cena pouco religiosa, com um cartaz "anunciando" a chegada do tucano Aécio Neves em 2018, foi retirado do gramado pela polícia para evitar confusão. Militantes petistas aplaudiram os policiais pela "prisão" do homem vestido com roupão e peruca.

Publicidade

Números. O efetivo da polícia na posse e no protesto de 2013 também foi o mesmo, cerca de três mil homens. A primeira posse do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em 2003, com estimativas que variavam de 70 mil a 150 mil pessoas, continua sendo a maior da historia recente, superior aos públicos que teriam participado da segunda posse de Lula, em 2007, 10 mil, e da primeira posse de Dilma, em 2011, 30 mil.

O tenente-coronel Lúcio César Costa Marques explicou que a estimativa para esta quinta foi uma média de estimativas feitas por diversos oficiais da polícia. Alguns fizeram estimativas mais modestas, de 30 mil pessoas. No cálculo, levou-se em conta a presença de 4 pessoas por metro quadrado. Os oficiais fizeram projeções a olho nu de uma plataforma e usaram dados de agentes que ficaram em pontos de acesso à Esplanada.

O coronel Joaquim Cinézio Marques, comandante-geral da operação, ressaltou que logo que Dilma entrou nas dependências do Congresso para tomar posse, um quarto do público começou a deixar o gramado e ir na direção da rodoviária central. Uma pequena parte se manteve sob o sol forte na Praça dos Três Poderes, onde mais tarde ouviu a presidente discursar no parlatório do Planalto. Nesse momento, eram cerca de 15 mil na praça.

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.