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10% dos eleitos têm só ensino básico

Pesquisa mostra que nível de instrução de novos prefeitos cai à medida que diminui a população das cidades

Por Wilson Tosta
Atualização:

Uma pesquisa da ONG Transparência Municipal constatou que o nível de instrução dos 5.563 prefeitos que iniciam seus mandatos hoje cai à medida que diminui a população dos municípios - quanto menor a cidade, menor a proporção de chefes de Executivo com educação superior ou média. Mesmo assim, o estudo mostra que 43,95% dos novos prefeitos têm curso universitário completo e 26,32%, todo o ensino médio. Um em cada dez, porém, tem apenas até o ensino fundamental incompleto. Dois eleitos se disseram analfabetos. Não há informações sobre 100 cidades. O trabalho é baseado em dados do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Segundo cálculos do economista e geógrafo François Bremaeker, 32 dos 102 prefeitos de cidades com até 2 mil habitantes - 31,37% do total - têm nível superior completo. Essa proporção cresce à medida que aumenta a faixa de população, indo até o grupo de 201 mil a 500 mil habitantes, no qual 77 dos 92 prefeitos têm curso universitário completo, equivalente a 83,69%. Na faixa seguinte, de 501 mil a 1 milhão de habitantes, ocorre a única quebra no padrão: com educação universitária, são 16 dos 23 prefeitos, 69,56%. Mas, na faixa de 1 milhão a 5 milhões, são 9 em 11 prefeitos com curso superior. Nas duas únicas cidades com mais de 5 milhões, São Paulo e Rio de Janeiro, os eleitos Gilberto Kassab e Eduardo Paes têm universidade completa. A pesquisa apurou ainda que 74,97% dos novos prefeitos estão concentrados em 13 das 120 ocupações profissionais identificadas pelo TSE. Isoladamente, a ocupação mais frequente foi a de prefeito: 1.350 prefeitos, o que corresponde a 24,27% do total, se apresentaram dessa forma. Em seguida, vêm empresários (8,52%), comerciantes (8%) e agricultores (7,55%). Na total, as profissões ligadas ao setor primário somam 22,24%. Também aí há variações de acordo com o tamanho das cidades. Nos menores, predominam agricultores, pecuaristas e servidores públicos estaduais; nas cidades médias, comerciantes e empresários prevalecem; nos municípios mais populosos, os novos prefeitos são na maioria profissionais liberais: administradores, advogados, engenheiros, médicos. "Cada vez mais, são eleitos prefeitos mais instruídos. Na área rural, o que há mais são pessoas com, no máximo, o ensino fundamental completo", disse Bremaeker. O estudo da Transparência Municipal também aponta forte predominância masculina entre os prefeitos. São 500 mulheres (8,99%) para 5.063 homens (91,01%) na chefia dos municípios. A maior proporção de homens prefeitos ocorre nos municípios de até 2 mil habitantes: são 96 em 102 - o equivalente a 94,12%. Nas cidades com 500.001 a 1 milhão de moradores, a presença feminina é proporcionalmente maior: 4 dos 23 prefeitos são mulheres. Segundo o estudo. "A participação de mulheres ainda é pequena, mas há um dado curioso nesse cenário", destacou Bremaeker. "Nas 100 cidades sobre as quais não há informações, os candidatos originais a prefeito foram impugnados durante a campanha, e entraram, em seu lugar, na maioria dos casos, mulheres e com o mesmo sobrenome. Devem ser filhas ou esposas." O trabalho também indicou que 69,57% dos prefeitos têm de 36 a 55 anos, com predominância dos chefes de Executivo de meia-idade: 37,21% estão na faixa de 46 a 55. Em termos partidários, o estudo revela que 90,87% dos prefeitos foram eleitos por apenas nove agremiações: PMDB, PSDB, PT, PP, DEM, PTB, PR, PDT e PSB. Ao todo, esse conjunto de partidos elegeu 5.060 chefes de Executivo municipal. Os demais 503 prefeitos pertencem a 14 partidos. O PMDB, com 1.200 prefeitos (21,57%), lidera. O PSDB vem em seguida, com 786 (13,13%), e o PT em terceiro, com 560 eleitos (10,07%). Apenas quatro partidos (PMDB, PSDB, PT e PP) concentram 55,73% dos cargos. São 3.100 prefeitos filiados a essas legendas.

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