Voto de Dilma em Porto Alegre é marcado por intenso tumulto

Juiz havia proibido que a imprensa acompanhasse a ex-presidente; Raul Pont, candidato do PT à prefeitura, saiu da confusão com a camisa manchada de sangue

PUBLICIDADE

Por Gabriela Lara e correspondente
Atualização:

PORTO ALEGRE - O voto da ex-presidente Dilma Rousseff na capital gaúcha foi marcado por um intenso tumulto na tarde deste domingo. Antes de ela chegar, os jornalistas que estavam na Escola Santos Dumont à sua espera foram informados que não poderiam acompanhar o voto da petista.

Representantes do Tribunal Regional Eleitoral do Rio Grande do Sul (TRE-RS) responsáveis pelo local de votação afirmaram que o juiz Niwton Carpes da Silva, da 160º zona eleitoral, havia proibido que a imprensa acompanhasse a ex-presidente. O motivo alegado é que, "por ser uma cidadã comum", ela teria que entrar sozinha na sala de votação, sem a presença nem de fotógrafos nem de repórteres.

Voto da ex-presidente Dilma Rousseff na capital gaúcha foi marcado por um intenso tumulto Foto: Itamar Aguiar

PUBLICIDADE

Na ocasião, o escrivão Luiz Carlos Braga disse que tinha recebido uma "ordem verbal" do juiz, que ainda não estava presente. A orientação era para impedir a entrada de quem quisesse acompanhar Dilma. O juiz também determinou que fosse contida qualquer mobilização de simpatizantes do PT na frente da escola, já que em local de votação só são permitidas manifestações "individuais e silenciosas". Depois, quando chegou ao local, o juiz repetiu os argumentos à imprensa.

A ex-presidente classificou como "absurda" e "antidemocrática" a decisão do TRE-RS de impedir que a imprensa registrasse o momento do seu voto, na tarde deste domingo, na capital gaúcha. "Acho antidemocrático. Acho um absurdo impedir a imprensa de chegar aqui", disse Dilma na saída da sala de votação, ainda dentro da escola. No momento em que ela falava com alguns jornalistas que conseguiram acessar o saguão, houve um confronto entre a Brigada Militar e os repórteres que ainda tentavam acesso.

Dilma chegou na companhia do ex-ministro Miguel Rossetto e do candidato do PT à prefeitura de Porto Alegre, Raul Pont. Foi recebida com festa por dezenas de apoiadores que estavam na frente da escola. Os jornalistas passaram pelo primeiro portão de acesso, mas foram barrados numa segunda porta de vidro que dá entrada à escola.

Na confusão, os próprios aliados de Dilma, como Rossetto e o deputado federal Henrique Fontana (PT), também foram impedidos de acessar o local de votação. Isso resultou em confronto com a Brigada Militar. Tanto os jornalistas como os políticos argumentaram com os policiais, que mantiveram a ordem do juiz e não permitiram a passagem.

O único que conseguiu passar, porque é candidato, foi Pont. Somente ele presenciou o voto de Dilma. No tumulto, a porta de vidro que separava a multidão das salas onde a ex-presidente e outros eleitores votavam foi quebrada. Algumas pessoas saíram feridas, entre elas Silvana Conti (PC do B), a candidata a vice de Raul Pont. Dilma foi orientada a aguardar por alguns segundos antes de deixar o lugar, para que não se machucasse.  O candidato saiu da seção com a camisa manchada de sangue. 

Publicidade

Ela saiu por uma porta lateral do prédio, onde um carro a aguardava. "Sempre votei. Nunca houve isso", afirmou a ex-presidente quando se dirigia ao automóvel. "Nunca a Brigada Militar foi chamada, nunca fecharam as portas. É lamentável."

Questionada sobre o argumento usado pelo juiz do TRE - que disse que por ser uma cidadã comum ela não poderia ter tratamento especial, nem ninguém acompanhando seu voto - Dilma disse que tinha orgulho de ser uma cidadã comum. "Há que se ter orgulho de ter cidadã nesse País", falou.

Lideranças do PT que presenciaram a confusão, Rossetto e Fontana disseram que o partido vai apresentar uma representação junto ao TRE-RS alegando tentativa de censura à ex-presidente. Ao falar com a imprensa após a saída de Dilma, o juiz foi questionado por que outros ex-presidentes, como Fernando Henrique Cardoso (PSDB), por exemplo, costumavam ter seu voto acompanhado por jornalistas. "Um erro não gera precedente", ele falou. "A imprensa começou a pressionar, queria entrar de qualquer jeito, e este foi o grande dilema. O movimento de fora para dentro foi enorme", acrescentou Niwton Carpes da Silva, justificando a confusão.

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.