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Vieira esperava ser ministro, diz ex-chefe

Presidente da Agência Nacional de Águas afirma que líder de suposto esquema alardeava proximidade com pessoas importantes do governo

Por ROSA COSTA/BRASÍLIA
Atualização:

Paulo Rodrigues Vieira, apontado pela Polícia Federal como chefe do esquema de venda de pareceres técnicos de órgãos federais, aspirava a um cargo mais alto do que a diretoria da Agência Nacional de Águas (ANA) e dizia que seria indicado para o cargo de ministro do Meio Ambiente.O ex-diretor também gostava de alardear proximidade com pessoas importantes, como o ex-chefe da Casa Civil do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, José Dirceu, segundo informou ontem o presidente da ANA, Vicente Andreu Guillo, ao depor na Comissão de Meio Ambiente, Fiscalização e Controle do Senado.Em cerca de duas horas, Andreu falou da dificuldade dos demais diretores da ANA de conviver com uma pessoa que descreveu como "complexa e ambiciosa", de personalidade difícil, com "altos e baixos". "Ele falava muito em ser candidato, tinha pretensões eleitorais, chegava a mencionar que estava cotado para ser nomeado ministro. Tinha esses arroubos com os quais a gente precisava conviver."Paulo Vieira chegou ao cargo graças à proximidade com Rosemary Nóvoa de Noronha, ex- chefe de gabinete da Presidência da República em São Paulo, e o apoio do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que o indicou para a vaga.Área técnica. Filiado ao PT, Vicente Andreu relatou que Dirceu disse não conhecer Vieira. "Sou amigo de longa data de Dirceu, liguei para ele, que me disse nem sequer conhecê-lo", contou. Andreu disse que o escolhido por Rosemary e Lula ficou desanimado com a agência porque esperava exercer outros tipos de atividade. "Ele tinha uma expectativa de que a agência poderia fazer regulação de saneamento, competências que não eram nossas. Ele desanimou, acho que tampouco conhecia a agência adequadamente e era uma pessoa ambiciosa, mas do tipo de pessoas que queriam alçar outros voos."Se pudesse escolher, Andreu acredita que Vieira optaria pela área de fiscalização e regulação e não pela Diretoria de Hidrologia. "Ele era um desconhecido no setor, não tinha formação na área. Embora pareça contraditório, optamos por colocá-lo numa diretoria de natureza muito técnica, por ser menos suscetível a decisões discricionárias. Ele discordou, mas o mantivemos assim nos dois anos em que esteve na agência para garantir o menor nível de influência possível em questões de natureza subjetiva ou pessoal", explicou.Rodízio. O presidente da Ana disse que Rosemary Noronha chegou a visitar Paulo Vieira nas instalações da agência. "Apesar de ser militante antigo do PT, não conheço Rosemary. Soube que Paulo chegou a levá-la para visitar a agência, mas nunca recebi nenhum pedido dela e nem de ninguém do governo", informou. "Vou lhe dizer aqui em primeira mão que ele chegava a cogitar que iria ser ministro do Meio Ambiente. Então era assim, era esse o tipo de personalidade com o qual nós lidávamos, mas não trazendo no processo histórico qualquer desconfiança de que fosse uma pessoa delituosa, criminosa ou qualquer coisa desse tipo", destacou.Vicente Andreu contou ainda que, para impedir o "avanço" de Vieira na ANA, eles decidiram suspender o rodízio entre os diretores na superintendência. Segundo ele, Paulo Vieira se consolava, dizendo que sairia da área técnica em um futuro próximo. "Ele dizia, bom, daqui a um ano vai haver o rodízio e, no rodízio, eu não vou ficar mais com essas áreas técnicas e posso eventualmente ter uma participação em outras áreas."

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