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'Viagem aos EUA será realizada', diz Marco Aurélio Garcia

Assessor da presidente preve reaproximação de Washington, mas reitera crítica a bombardeios 'que só levam à barbárie'

Por Wilson Tosta
Atualização:

O assessor especial da Presidência Marco Aurélio Garcia acredita que, caso reeleita, a presidente Dilma Rousseff fará aos EUA a visita de Estado que cancelou depois das denúncias de que a Agência de Segurança Nacional (NSA, na sigla em inglês) espionara o Brasil. Ele lembrou ontem que a viagem foi suspensa, não cancelada, e contou que a presidente já lhe disse que pretende ir aos Estados Unidos. “A visita acho que se fará”, afirmou Garcia, após evento do ciclo Os Rumos da Política Externa após as Eleições de 2014, promovido pelo Centro Brasileiro de Relações Internacionais (Cebri). “Evidentemente, naquele momento (a viagem estava marcada para outubro de 2013), era absolutamente inadequada. E o próprio presidente (Barack) Obama reconheceu isso na conversa telefônica que os dois tiveram, eu ouvi a conversa, estive junto.” A viagem não significa que haverá redução de críticas do governo brasileiro à política americana em um segundo mandato de Dilma. Em sua palestra para estudantes e pesquisadores de relações internacionais no câmpus da Praia Vermelha da Universidade Federal do Rio de Janeiro, Garcia lembrou que “uma agência de espionagem americana” bisbilhotou no Brasil empresas privadas, ministérios, empresas públicas e a presidente.

Marco Aurélio Garcia foi assessor especial da Presidência para Assuntos Internacionais nos governos petistas Foto: Marcos de Paula/Estadão

Ele rebateu a crítica de que o Itamaraty ganhou componentes antiamericanos no governo petista. “(A política externa brasileira) não tem viés antiamericano coisa nenhuma. Menos ainda temos a ideia de que os Estados Unidos são uma potência declinante. Não o são e não o serão por muitas décadas. Se alguém está apostando no Declínio do Império Americano, vá ver o filme canadense (que tem esse título), mas mais do que isso, não”, ironizou Garcia. O assessor especial afirmou que os EUA sempre tiveram políticas apenas reativas para a América Latina. “Queremos um outro tipo de relação”, afirmou. Lembrou que os americanos foram advertidos, em 2012, na Colômbia, por outros presidentes da região que aquela seria a última Cúpula das Américas sem Cuba. “E agora o problema está criado.” Para ele, as relações com os EUA poderão melhorar se houver inteligência de ambas as partes. Ele defendeu que “conjuntamente e respeitosamente” Brasil e EUA estabeleçam as condições para reaproximação entre os dois países. Um exemplo que citou foi o programa Ciência Sem Fronteiras, que tem participação grande dos Estados Unidos. Segundo o assessor especial, não houve condescendência do Brasil com o Estado Islâmico quando a presidente Dilma Rousseff defendeu, nas Nações Unidas, a via diplomática. “Não apoiamos intervenções armadas sem autorização do Conselho de Segurança”, disse. “Por que fazemos isso? Por que temos indulgência com a barbárie? Não. Porque descobrimos que essas ações armadas eram bravatas, em vez de combater a barbárie, a estimulavam.” Como exemplo do fracasso da política de intervenção unilateral dos Estados Unidos e de potências ocidentais, ele lembrou as invasões no Iraque e no Afeganistão, a intervenção na Líbia e o auxílio a rebeldes na guerra civil síria. Garcia rebateu os que acusam a política externa do PT de ter excessivo viés ideológico, considerando as críticas “torpes” e os “argumentos bestificadores”. Ele disse que o Brasil se relaciona bem com os países bolivarianos, mas negou ser bolivariano. “Não tenho nada contra os bolivarianos, mas não é a minha praia”, declarou. Ele ressaltou que o País considera importante o relacionamento com os vizinhos e defendeu a integração da região. Sem citá-lo nominalmente, criticou a política externa pregada pelo presidenciável tucano Aécio Neves. “Tudo isso, evidentemente, vai exigir do governo brasileiro, uma capacidade de negociação e de diálogo muito grande”, declarou. “Esta capacidade não se fará, se dissermos que estamos cercados por países produtores de cocaína”, acrescentou.

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