Único réu candidato, João Paulo diz querer discutir mensalão nas eleições

Na disputa pela Prefeitura de Osasco, ex-presidente da Câmara afirma que marcar análise do caso em agosto é 'disputa política' com PT e não teme uso do escândalo pela oposição

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Por Redação
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Único dos 38 réus do mensalão a disputar as eleições municipais de outubro, o deputado João Paulo Cunha (PT) diz não querer esconder o principal escândalo do governo Lula de sua campanha a prefeito em Osasco, seu reduto político na Grande São Paulo. Ex-presidente da Câmara, João Paulo promete discutir nas ruas o processo que será julgado pelo Supremo Tribunal Federal em agosto, no qual foi denunciado por corrupção, desvio de verba pública e lavagem de dinheiro. Quer fazer isso antes que a oposição o faça."Durante a campanha, a oposição não vai precisar falar do mensalão, porque eu vou falar. Ela pode ficar sossegada, porque vou na frente falando para a população o que foi o processo do mensalão", disse João Paulo ao Estado em seu escritório político de Osasco, na sexta-feira.No sábado, o deputado tocou veladamente no assunto ao discursar na convenção da coligação 100% Osasco, de PRTB, PT do B, PTC e PTN (quatro das quase 20 siglas que costuram apoio ao petista). "Vocês sabem das minhas dificuldades. Se eu pudesse pedir um desejo a Deus, eu pediria para ninguém ter constrangimento e qualquer problema comigo. Deixar o problema só comigo, porque Deus nunca dá o peso a quem não consegue carregar. E eu saberei carregar o tamanho do peso que eu tenho", bradou o deputado, sob aplausos de militantes do Jardim Piratininga, zona norte de Osasco.João Paulo ainda não decidiu como vai debater o mensalão. Em 2006, quando fez campanha e se reelegeu deputado, diz ter mantido diálogos em tendas nas ruas. Agora, tenta convencer o diretório do PT na cidade: "Temos de falar da cidade e do mensalão. Não podemos esconder." Acusação. Em 2006, João Paulo foi denunciado pela Procuradoria-Geral da República por lavagem de dinheiro, corrupção passiva e peculato. Ele teria recebido R$ 50 mil de forma ilegal do publicitário Marcos Valério. Depois, teria favorecido a empresa dele em um contrato da Câmara. A mulher de João Paulo, Márcia Regina Cunha, sacou a quantia numa agência do Banco Rural em Brasília. A defesa nega os crimes. À Justiça, alega que ele não sabia a origem do dinheiro e não ocultou o destino, tendo pago um instituto de pesquisa. Tampouco teria favorecido Valério.João Paulo diz que, em 2004, pediu dinheiro ao então tesoureiro do PT, Delúbio Soares, para pagar pesquisas eleitorais em Osasco. E que seguiu sua orientação para sacar os R$ 50 mil - prática normal na política, afirma.Redenção. Mesmo depois de o caso vir a público, em 2005, João Paulo conseguiu se reeleger duas vezes, em 2006 e 2010. Chegou a ocupar a presidência da Comissão de Constituição e Justiça e de Cidadania (CCJ). Mas avalia que sua honra está em jogo. João Paulo considera a eleição a prefeito uma chance de recomeço de sua vida política.Ele tentará a dupla absolvição: primeiro, ser inocentado pelo Supremo. Depois, o novo teste das urnas. E dar continuidade à gestão de Emídio de Souza (PT). "O mensalão será uma preocupação do PT em todo o País, não só em Osasco. Mas não trabalhamos com plano B", disse Emídio, confiante na absolvição.João Paulo circula em Osasco como celebridade. Diz que as pessoas acompanham sua vida e podem defendê-lo. Em seu reduto, zona norte de Osasco e periferia, o sentimento é de que o mensalão não vai pegar na eleição.Segundo pesquisa local, João Paulo tem 26% das intenções de voto, atrás do deputado estadual e ex-prefeito Celso Giglio (PSDB), com 34%, e à frente do vereador Osvaldo Vergínio (PSD), que tem 10%. Ao mesmo tempo em que precisa convencer 11 ministros do STF de sua inocência, João Paulo terá de mostrar a mais de 540 mil eleitores que sua carreira política ainda tem um sentido.

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