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Um olhar crítico no poder e nos poderosos

Opinião|Um novo mapa político

Foto do author Eliane Cantanhêde
Atualização:

Foi uma eleição sem motivação, sem dinheiro, embolada e acossada pela Lava Jato, que atinge a política em geral, mas sobretudo o PT e os governos Lula e Dilma Rousseff, previamente os grandes derrotados. É assim que chegamos a este domingo, quando 16.568 candidatos (sem contar os candidatos a vereador) disputam as prefeituras e os votos de mais de 140 milhões de eleitores no País todo, exceto no Distrito Federal. Está em jogo não apenas o futuro dos candidatos, mas também, ou principalmente, dos seus padrinhos. São Paulo, principal capital e um dos maiores orçamentos da República, é o melhor exemplo de como Lula réu, o impeachment de Dilma e as prisões e agruras de ministros decisivos da era petista – José Dirceu, Antonio Palocci, Guido Mantega, Paulo Bernardo, Gleisi Hoffmann... – danificam a imagem do PT e a confiança do eleitorado em todo o País. Vários petistas pularam do barco e a única capital onde o partido nada de braçada é a distante Rio Branco, no Acre. Cumpriram-se algumas profecias paulistanas: Celso Russomanno (PRB) foi novamente um balão de gás, que sobe rápido e murcha; João Doria, do PSDB, começou na lanterninha, atropelou os adversários, um a um, e chega ao dia “D” na liderança; o prefeito Fernando Haddad patinou o tempo todo, mas o PT, mesmo ferido, é um “partido de chegada” e Haddad passou ileso pelos escândalos. Assim, está nos calcanhares de Russomanno e de Marta Suplicy, ex-PT e atual PMDB em aliança com a dissidência do PSDB. Marta tem o que mostrar na periferia, mas se equilibrando entre os ataques do PT, à esquerda, e do PSDB de Geraldo Alckmin, à direita. Quem disputará o segundo turno com Doria? A eleição, aliás, comprova a influência direta dos governadores sobre o resultado – para o bem e para o mal. Para o bem: Alckmin sai do primeiro turno com o principal troféu da eleição e, se o segundo turno confirmar a vitória de Doria, ele sobe vários degraus rumo à candidatura do PSDB à Presidência em 2018. Aécio Neves tem lá seus problemas com a Lava Jato, apesar de o tucano João Leite liderar em Belo Horizonte. José Serra descolou-se da eleição paulistana, mas deixou a digital na chapa Marta-Andrea Matarazzo, além de atrelar suas chances presidenciais ao sucesso, ou fracasso, do governo Temer. Para o mal: as vicissitudes do governador Fernando Pimentel com a polícia e a justiça inviabilizaram o candidato do PT em BH, Reginaldo Lopes, assim como as dificuldades nacionais do PT neutralizaram a força do PT, do ex-governador Jaques Wagner e do seu sucessor Rui Costa em Salvador, onde o prefeito ACM Neto, do DEM, não apenas deve vencer já no primeiro turno como tende a ser o campeão de votos no País. No Rio, a mesma barafunda de sempre. Dividida entre uma elite “de esquerda”, que vive de frente para a praia, e um povão “de direita”, que amarga o calor e a violência dos subúrbios, a Cidade Maravilhosa dá uma liderança inconteste a Marcelo Crivella, que é menos senador e mais líder da Igreja Universal (ou do PRB), e embola todos os demais no segundo lugar. E o Nordeste, onde quem tinha um PT era rei, o partido não lidera em nenhuma capital e o PMDB fica de fora. O PDT sai na frente em Natal, São Luís e Fortaleza, o PSDB em Maceió e Teresina, o PSD em João Pessoa, o PCdoB em Aracaju e o PSB no Recife. O território petista, portanto, passa a ser uma terra de ninguém, enquanto as forças políticas se reajustam e se recolocam. Por fim, duas lembranças. Com quase cem mortos por motivações políticas neste ano, trata-se da eleição mais violenta pós-redemocratização. E haverá segundo turno na maioria esmagadora das capitais, o que é quase uma nova eleição e sempre pode haver surpresas. Bom voto!