Tucano pode levar PSDB a vitória inédita em Porto Alegre

Candidato impulsionado pelo senador Aécio Neves disputa com peemedebista a prefeitura da capital gaúcha, que nunca foi governada pelo partido

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Por Gabriela Lara e Ricardo Galhardo
Atualização:

PORTO ALEGRE - Em uma campanha marcada pela agressividade tanto na propaganda oficial quanto nas redes sociais e nas ruas, o PSDB pode chegar pela primeira vez à prefeitura de Porto Alegre, consolidando a ascensão nacional dos tucanos como o partido que mais cresceu nas eleições municipais deste ano.

Da esquerda para a direita: Nelson Marchezan Jr e Sebastião Melo Foto: Fotos: Alexssandro Loyola|Agência Câmara e Reprodução|Facebook

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O deputado Nelson Marchezan Jr. (PSDB) lidera a disputa com 56% das intenções de votos válidos, segundo o Ibope, contra 44% do atual vice-prefeito Sebastião Melo (PMDB), de acordo com o levantamento do instituto desta sexta-feira, 28.

Embora esteja em seu terceiro mandato na Câmara e seja filho do ex-deputado Nelson Marchezan (Arena), o tucano adotou um discurso contra a política tradicional, a exemplo do que João Doria (PSDB) fez na disputa pela Prefeitura de São Paulo, e arrancou da quarta posição para alcançar a liderança no primeiro turno.

Ele credita o bom desempenho à intervenção do presidente nacional do PSDB, senador Aécio Neves (MG), que bancou uma renovação do partido no Estado e barrou o grupo da ex-governadora Yeda Crusius. 

“O PSDB nacional tomou uma decisão muito importante de reformular o partido no Rio Grande do Sul. Isso fez com que a gente pudesse chegar hoje ao maior tamanho do partido na história do Estado. Se eu ganhar, a semente disso foi uma decisão nacional, principalmente de Aécio”, disse o candidato.

Já Melo, que representa um projeto que está há 12 anos à frente da prefeitura, largou na frente e chegou em segundo lugar. Aliado do ex-senador Pedro Simon, o vice-prefeito apoiou Marina Silva (Rede) na eleição de 2014 contra a chapa Dilma Rousseff-Michel Temer, tem a deputada estadual Juliana Brizola (PDT), neta de Leonel Brizola, como candidata a vice e, nos últimos dias, fez uma inflexão à esquerda, formalizando posição contrária à Proposta de Emenda à Constituição (PEC 241), que limita os gastos públicos por 20 anos, de olho nos eleitores do PT, PCdoB e PSOL.

“O Marchezan é a candidatura que está mais à direita. Nós municipalizamos a campanha mesmo sabendo que ela tem reflexo estadual e nacional”, afirmou Melo. 

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Para Juliana, uma vitória do peemedebista pode significar um freio na onda conservadora que marcou as eleições deste ano. “Uma vitória da nossa chapa significa que ainda existe um pouco de resistência à onda da direita”, disse ela.

Justiça. O clima tenso da campanha gerou reflexos na Justiça. Foram pelo menos dez ações ajuizadas – a maioria de autoria da equipe de Marchezan.  Entre os dias 15 e 17, uma série de fatos abalou as candidaturas. Na madrugada do dia 16, vidraças do comitê de Marchezan foram estilhaçadas. A campanha tucana tratou o episódio como um ataque a tiros que poderia ter motivação eleitoral. Nesta semana, no entanto, a Polícia Federal apontou que os danos foram causados por uma forte ventania. Melo aproveitou para chamar o tucano de mentiroso.

O fato mais marcante, no entanto, ocorreu no dia 17, quando um dos coordenadores de campanha de Melo, Plínio Zalewski, foi encontrado morto na sede do PMDB. A Polícia Civil trata o episódio como suicídio. A campanha de Melo atribuiu a tragédia à ação do Movimento Brasil Livre (MBL), que acusou Zalewski de fazer campanha em horário de expediente. Isso fez com que ele pedisse exoneração do cargo que ocupava na Assembleia Legislativa.

“Medidas judiciais cabíveis estão sendo tomadas”, disse a advogada Paula Cassol, porta-voz do MBL no Rio Grande do Sul.

TRÊS PERGUNTAS PARA...

Nelson Marchezan Jr., candidato do PSDB à prefeitura de Porto Alegre

1. O sr. adota discurso contra a política tradicional, mas está no terceiro mandato de deputado. É uma contradição?

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A contradição é quando interpretam as frases falando mal da política. Só digo que a política tem de ser feita de uma forma diferente.

2. O que explica a beligerância desta campanha?

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A mudança sempre dói. Se é alguma coisa com a qual a gente está acostumado a mais tempo, dói mais. A gente não pode relacionar um óbito (de Plínio Zalewski) à campanha. Se foi um suicídio, foi por questões pessoais. Não cabe neste momento aos candidatos entrar nisso. Porque, fora isso, são acusações de internet. O que houve foi, neste segundo turno, uma tentativa de usar fatos tristes com finalidade eleitoral. Isso não existiu no primeiro turno.

3. Existe ligação entre sua campanha e o MBL (Movimento Brasil Livre)?

Sou apoiado pelo MBL e fui apoiador do MBL. Assim como há deputados até do PMDB que têm muita proximidade com o MBL, sou mais um dos 60 ou 70 candidatos apoiados por eles. O MBL e o Vem Pra Rua conseguiram uma nova forma de se comunicar com a população já que partidos e sindicatos se renderam à estrutura pública.

Sebastião Melo, candidato do PMDB à prefeitura de Porto Alegre

1. O senhor é um candidato de esquerda?

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Sou um democrata. Os termos de esquerda e direita são superados. Tenho uma caminhada política que nasceu no MDB, que abrigava as forças de centro-esquerda. Sempre defendi as causas sociais, um Brasil com menos juros, que não seja dos banqueiros. Este é o grande mal do País, ter entregue o poder público para especulação financeira. Isso valeu até mesmo nos governos do PT e do Fernando Henrique Cardoso.

2. Vale para o governo Michel Temer?

Não é diferente.

3. O que explica a beligerância da campanha no segundo turno?

Atribuo ao MBL (Movimento Brasil Livre). Só tem uma coisa que tornou a campanha violenta, quem perseguiu psicologicamente o Plínio (Zalewiski, coordenador do programa de governo, encontrado morto no comitê de campanha, possivelmente por suicídio). Eles perseguiram, os fatos vão mostrar isso. E agrediram anteontem a minha candidata a vice (Juliana Brizola, neta do ex-governador). Os movimentos têm o direito de se organizar, mas vou combater a vida inteira a truculência.

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