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'Sem TV é difícil falar com todo mundo', diz cineasta sobre campanha de Marina Silva

Voluntariamente, o diretor Fernando Meirelles faz vídeo para candidata da Rede à Presidência nas eleições 2018 usar nas redes sociais

Por Marianna Holanda
Atualização:

Apoiador declarado da candidata à Presidência Marina Silva (Rede) desde 2010, o diretor Fernando Meirelles faz parte da equipe de cineastas voluntários que vai fazer os “filmes” para a campanha da presidenciável usar nas redes sociais. Em entrevista ao Estado por e-mail, Meirelles lamenta não poder atingir públicos maiores nas redes sociais, como a TV consegue, e conta que seu vídeo deve dialogar mais com a classe média.

O diretor indicado ao Oscar pelo filme Cidade de Deus chegou de Los Angeles ao Brasil no fim de semana para gravar, durante a semana, o seu filme. Meirelles disse que a candidata neste ano está com ideias “mais afinadas” e que representa um “antídoto” contra a ameaça ao meio ambiente.

O cineasta Fernando Meirelles Foto: Marcos Arcoverde/ Estadão

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Sobre a disputa eleitoral, o cineasta criticou candidatos que defendem mudança no Estatuto do Desarmamento, principalmente, Jair Bolsonaro (PSL). Aliás, disse que “não é contra” o presidenciável, mas “em quem vota nele”, que, na sua avaliação, simboliza um forte retrocesso. Abaixo os principais trechos da entrevista:

Por que o sr. resolveu apoiar Marina Silva de novo neste ano e qual seu papel na campanha? Se sairmos da batalha sangrenta do dia a dia, é muito fácil ver que o futuro do nosso planeta está mais do que ameaçado, já está comprometido. Enquanto os outros candidatos falam em fortalecer a exploração de petróleo ou explorar minério na Amazônia, a Marina é um antídoto contra essa ameaça. Também gosto da ideia de governança em rede, um governo que ouça a sociedade e inclua academia, ONGs, empresários e conecte todas essas pessoas. Governo centralizado é coisa do século 20. Já foi.

Qual mensagem o sr. pretende passar nos seus filmes?  O programa de governo da Marina tem propostas que mudam paradigmas. A ideia é falar sobre algumas dessas ideias, como a mudança para matriz energética limpa, apoio forte à agricultura familiar e o foco na primeira infância começando a preparar uma geração que pode transformar o país daqui a 20 anos.

O principal eleitorado da Marina é mulher, pobre, preta/parda, nordestina e de renda e escolaridade baixas. Isso vai se refletir nos vídeos? Elas serão o público principal? Seria ótimo conseguir falar com todo mundo, mas sem TV é difícil chegar em muitos lugares. O Fred (Mauro, outro cineasta que está no projeto) está fazendo um filme para dialogar com este público e eu estou falando mais com classe média.

Quem é a Marina que o sr. pretende apresentar? Gosto do lado estadista da Marina, que pensa um projeto de país a longo prazo. Sustentabilidade tem total relação com construir o futuro. A ideia de energia limpa, de educar crianças desde a formação neural, ou a agricultura agroecológica, têm relação com isso. Já quem propõe armar a população, que futuro está imaginando?

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O sr. está falando de Bolsonaro? Ele é um, mas o (João) Amoêdo (candidato do Novo) também é a favor de afrouxar o controle da venda de armas e a vice do Ciro (Gomes, do PDT, Kátia Abreu) também acha que no campo todo mundo deveria manter uma garrucha embaixo do travesseiro. Me apavora pensar que pode haver uma arma dentro da bolsa da Dona Eliana, uma senhora histérica que conheço. Ela dá piti em supermercado, briga com garçom, fica furiosa no trânsito. Se sem arma ela já é uma ameaça a sociedade, imagina a Dona Eliana armada. Vai dar ruim com certeza. 

Por que vai dar ruim? Como vê a candidatura dele? Eu não sou contra o Bolsonaro, eu sou contra quem vota nele. O cara tem direito de ser maluco. Juro que tenho tentado escutá-lo para entender o que atrai tanto seus eleitores, mas 90% do que ouço é a repetição exaustiva das mesmas coisas: "Vou armar a população, vou prender, vou matar, vou castrar, vou desapropriar índio, desapropriar quilombola, vou derrubar floresta para explorar minério". Não ouvi muito mais que isso. Como discordo de todas estas "ideias", vejo-o como um retrocesso forte para o País. Fiz uma piada sobre seus eleitores, mas compreendo a vontade desesperada de colocar ordem nesta bagunça. Nisso estão certos, mas já tentaram colocar ordem no Brasil na marra e não funcionou.

Com a rejeição da candidatura do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e tendo Marina como possível "herdeira" de votos, como o seu filme/vídeo poderia atrair esse eleitorado?Sinceramente não estou fazendo os filmetes pensando em atrair eleitores, estou apenas tentando informar falando sobre alguns pontos do programa que merecem mais visibilidade. O esforço é falar de maneira clara, rápida e com algum molho para que possa se espalhar ao máximo.