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Rose deu 'nova composição' a esquema

Denúncia do Ministério Público indica que Paulo Vieira atraiu ex-assessora em busca de 'apoio político' e acesso à máquina do governo

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Por Fausto Macedo
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A quadrilha que se instalou na administração pública federal para obtenção de pareceres técnicos fraudulentos aproximou-se de Rosemary Noronha, então chefe de gabinete da Presidência da República em São Paulo, para garantir "apoio político" e agilizar a realização de seus objetivos. Na denúncia que a Procuradoria da República entregou à Justiça Federal contra 24 alvos da Operação Porto Seguro, Rose aparece como integrante da "nova composição" da organização que corrompia servidores.A acusação, em 137 páginas, descreve inicialmente os passos de Paulo Rodrigues Vieira, ex-diretor da área de Hidrologia da Agência Nacional de Águas (ANA), e suas relações com o ex-senador e empresário Gilberto Miranda.Por um período, Paulo e seus irmãos, Rubens e Marcelo, atuaram sem a parceria com Rose. Segundo a denúncia, o grupo era formado, ainda, pelos advogados Patrícia Maciel e Marco Antonio Negrão Martorelli, que davam apoio jurídico.Depois, a partir de 2004, dadas as dificuldades para se instalar na máquina do governo, Paulo Vieira passou a se valer dos préstimos de Rose, de quem já era amigo. Ela chegara ao posto em 2003, por ordem do então presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que criou para Rose o cargo na estrutura da Presidência.A Procuradoria dedica 38 páginas da peça acusatória aos movimentos de Rose, denunciada por falsidade ideológica, corrupção passiva, tráfico de influência e formação de quadrilha. Para o Ministério Público Federal, em troca de pagamentos em espécie e outras vantagens, ela teve papel decisivo na nomeação de Paulo e de Rubens, este no cargo de diretor da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac).À página 105, os procuradores observam que "para os irmãos Vieira não importava qual o cargo político para o qual conseguiriam ser nomeados, desde que este possibilitasse grande liberação de recursos". "Sondavam ao mesmo tempo várias possibilidades: Conselho do Turismo, Coaf, entendendo que 'bom mesmo' seria o cargo da Anac."Enorme influência. À página 107 da denúncia, os procuradores federais Suzana Fairbanks, Roberto Dassié e Carlos Renato Silva e Souza abrem o capítulo "As diversas trocas de favores" e assinalam: "As atividades de Rosemary para conseguir a indicação dos irmãos Vieira nos cargos apontados não foram aquelas de uma 'amiga' com o objetivo simplesmente de favorecê-los, mas sim de alguém que, com enorme influência política e atuação nos bastidores do poder central, utiliza-se dessas prerrogativas".O pagamento de um boleto bancário no valor de R$ 13.805,33 referente à quitação de um apartamento da Cooperativa Habitacional dos Bancários (Bancoop) no Condomínio Torres da Mooca, em abril de 2009, é considerado prova de corrupção passiva. "Exercendo sua influência política, Rose por diversas vezes solicitou ou recebeu vantagem indevida. Resta evidente que o relacionamento entre Paulo e Rosemary nada tem de pura e desinteressada amizade, mas sim demonstra a prática constante e reiterada de diversos crimes contra a administração pública", asseveram os procuradores. À página 122, a denúncia apresenta um organograma do grupo, aí incluindo Rose no papel de "apoio político" - Paulo é citado como "chefe", Rubens como "apoio jurídico" e Marcelo "apoio operacional"."Embora inicialmente a pessoa de Rosemary tenha surgido nas investigações como relacionada a Paulo em uma relação de 'amizade' baseada em trocas de favores sempre conversíveis em valores pecuniários, na etapa final das investigações foi possível constatar, em análise conjunta com todo o material probatório, que Rosemary possui vínculo permanente com o grupo criminosos de Paulo e seus irmãos pelo menos a partir de 2004.""Verificamos que Rosemary, juntamente com Paulo, Rubens e Marcelo Vieira, compõe uma nova quadrilha ou bando, diversa daquela composta pelos irmãos Vieira e os advogados Patrícia Maciel e Marco Negrão Martorelli", destaca a procuradoria.

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