Retomada do PIB, a tarefa inadiável

Não há resposta simples mas uma coisa é certa, dizem especialistas: o Brasil precisa voltar a crescer - e medidas paliativas não resolvem

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Por João Villaverde e Iuri Dantas
Atualização:

BRASÍLIA - Na primeira metade deste ano, a economia brasileira mergulhou em uma recessão técnica pela segunda vez desde o início da crise financeira internacional. No fim de 2008 e início de 2009 aconteceu o mesmo, mas o crescimento no ano seguinte foi o mais forte em um quarto de século, muito apoiado por medidas tomadas pelo governo para estimular o consumo. 

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Desta vez, a maioria dos especialistas acredita que o País precisa de mais do que isso para superar a contração econômica verificada de janeiro a junho pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Eis o desafio que está lançado: como fazer a economia voltar a crescer?

Não há uma resposta simples para a pergunta acima. Entre os economistas consultados pelo Estado, um ponto consensual é quanto à necessidade urgente de fazer com que o PIB volte a crescer de forma sustentada, isto é, uma fórmula que permita que os investimentos públicos e privados cresçam acima do consumo das famílias, num movimento contínuo. 

Outra opinião unânime indica a necessidade de aumentar a produtividade: fabricar produtos melhores, com maior escala e a preços mais baixos.

Caso a previsão mais recente do mercado para o avanço do PIB seja confirmada, a economia avançará 0,5% em 2014, a menor taxa desde 1999, excluindo, é claro, a retração de 0,3% registrada em 2009, logo após a explosão da crise. Além disso, o governo Dilma Rousseff (PT) terminará com uma das menores médias de crescimento econômico desde a proclamação da República, em 1889. Apenas os presidentes Floriano Peixoto (1891-1894) e Fernando Collor (1990-1992) entregaram uma média menor. Diante desse quadro, a retomada do crescimento tornou-se um imperativo econômico e político. 

“O grande problema do Brasil é que, em pleno debate eleitoral, ninguém apresenta soluções para o baixo crescimento da economia. Começa 2015 e o que o governo fará para dinamizar a atividade, criando as condições para que os empresários façam investimentos?”, questiona o professor Luiz Carlos Bresser-Pereira, da Fundação Getúlio Vargas (FGV-SP).

Estagnação. Ex-presidente do conselho de administração do Grupo Pão de Açúcar, ex-ministro da Fazenda (1987), da Gestão Pública (1995) e de Ciência e Tecnologia (1999), Bresser-Pereira está pessimista. “Vivemos hoje um processo semelhante aos de 1986 e 1998, que eu vivi na pele. O quadro é de estagnação que precede uma crise interna, e assim o tão necessário ajuste é realizado”, diz ele, em referência a dois períodos históricos.

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Em 1986, o governo José Sarney (PMDB) segurou o Plano Cruzado até o limite, permitindo ajustes somente após as eleições - em 1987, o País quebrou e deu um calote na dívida externa. Em 1998 foi a vez de o presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB) segurar a taxa de câmbio fixa na relação de “um para um” entre dólar e real. 

Semanas após as eleições, o mercado forçou um ajuste, o câmbio disparou e a economia entrou em crise no início de 1999. Bresser-Pereira não foi o único economista a relatar ao Estado uma certa semelhança com o cenário vivido hoje, no governo Dilma Rousseff.

Dilema. Na avaliação de Colin M. Lewis, professor emérito de História Econômica na London School of Economics, a retomada do crescimento passa por um combate mais eficiente da inflação. O governo também deveria buscar o aumento da produtividade do País. Lewis aponta, ainda, para a necessidade de melhorar a administração da taxa de câmbio e atacar “o dilema produtividade/corrupção”, que também atrapalha o avanço de empresas brasileiras.

“Até muito recentemente, sucessivos governos brasileiros tiveram um histórico razoável de administrar a inflação, um excelente desempenho na redução da desigualdade social”, assinalou. “E um resultado bem mais malsucedido no aumento da produtividade, não obstante as melhorias do mercado de trabalho.”

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Resultados.Segundo o economista Márcio Garcia, doutor por Stanford (EUA) e professor da PUC-RJ, o governo está “colhendo os frutos” das sementes plantadas no combate à crise mundial, entre 2008 e 2010. “Teria sido melhor uma combinação de juros mais baixos e menor expansão fiscal, o contrário do que foi feito. Alguns estímulos dados em 2009 faziam sentido, mas deveriam ter sido revertidos. Não foram, e era óbvio que chegaríamos no limite do crescimento sustentado sem avanço da produtividade”, afirma.

A indústria de transformação, que deveria alavancar a produtividade, está em crise. “Os vários pacotes de medidas de estímulo anunciados pelo governo, que não consegue mais entregar o crescimento como entregou, foram principalmente voltados para o consumo das famílias. Esses incentivos serviram mais às importações, e a indústria hoje não responde mais. O atual modelo morreu”, diz o economista Maurício Canêdo Pinheiro, professor-doutor da FGV-Rio.

Para o economista Luis Eduardo Assis, ex-diretor do Banco Central em 1991 e 1992, quando a crise econômica criada pelo Plano Collor deixou a inflação acima de 1.000%, a situação mundial não ajudou o governo. “O governo errou na ingerência no setor elétrico e no controle do preço da gasolina” diz o economista. “As concessões demoraram muito a sair do papel por excesso de voluntarismo do governo em definir lucros do setor privado. Mas, mesmo essa série longa de equívocos, não são a razão única para a recessão. O quadro internacional é muito complicado.”

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