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Reforma de Dilma não será 'sangria desatada'

Expressão é utilizada no Palácio do Planalto para explicar ritmo que a presidente deve imprimir ao trocar auxiliares: de forma lenta e gradual

Por João Domingos e BRASÍLIA
Atualização:

A reforma ministerial que a presidente Dilma Rousseff planeja fazer no ano que vem não deverá ser "uma sangria desatada", na expressão que circula pelos gabinetes do Palácio do Planalto. Também não tem uma data certa. Em banho-maria, pode até ficar para março, de forma a coincidir com a substituição obrigatória dos que vão sair para disputar as eleições municipais. Até a situação do ministro Fernando Haddad (Educação) é incerta. Candidato à Prefeitura de São Paulo, ouviu do PT municipal um apelo para que antecipe sua saída da Esplanada, de forma a ter mais tempo para preparar a campanha. Haddad conversou com a presidente Dilma sobre o pleito dos petistas. Esta, segundo o próprio ministro, pediu que ele espere um pouco. De acordo com informações do PT paulistano, ainda não dá para dizer se Haddad será liberado antes ou se terá de esperar a leva que sai.Antes das seguidas crises que derrubaram sete ministros - seis deles por suspeitas de envolvimento em irregularidades diversas, como enriquecimento ilícito e corrupção, e Nelson Jobim, da Defesa, por criticar colegas - falava-se que a reforma ocorreria em janeiro, quando de fato a presidente teria sua própria equipe e não um misto herdado do padrinho, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.Mas agora, no próprio núcleo que cerca a presidente há dúvidas quanto à data. O que se fala é que a chefe nem mais comenta o assunto.O certo é que dos 38 ministros atuais, onze poderão sair. Quatro porque pretendem disputar prefeituras em outubro: Fernando Bezerra Coelho (Integração Nacional), a de Recife; Fernando Haddad, a de São Paulo; Iriny Lopes (Mulheres), a de Vitória; e Leônidas Cristino (Portos), a de Sobral. Este último pode ainda optar por ficar no ministério.Outros cinco deverão sair por motivos diversos, desde um possível fim do ministério a resolução de brigas internas em determinados setores.Afonso Florence (Desenvolvimento Agrário) e Luiza Bairros (Igualdade Racial) são candidatos a sair numa possível incorporação de suas pastas por outras; Ana de Hollanda (Cultura), para resolver brigas de tendências na área cultural; Mário Negromonte (Cidades) por causa de suspeitas de envolvimento em irregularidades e por não ter apoio da bancada do PP; e Paulo Roberto Pinto (Trabalho), por estar na interinidade, apenas guardando o lugar do futuro ministro.Oitavo. Numa situação peculiar está o ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio, Fernando Pimentel. Tido como "o ministro da presidente Dilma", por ser amigo dela desde os tempos da luta armada, no final dos anos 60, Pimentel passa por um processo de desgaste muito forte, devido às suspeitas de tráfico de influência cometido quando ele deixou a Prefeitura de Belo Horizonte (MG), em primeiro de janeiro de 2009, e passou a tocar uma empresa de consultoria.O caso de Pimentel é tido como igual ao do ex-ministro Antonio Palocci (Casa Civil), que também ganhou muito dinheiro com consultorias nas vésperas da eleição de Dilma. Desconfiados de que a série de denúncias contra Pimentel vá continuar, há, no governo, quem já invoque para ele o filme "Alien, o oitavo passageiro", de Ridley Scott. Se cair, Pimentel será o oitavo ministro a dizer adeus ao governo de Dilma. Já o ministro Mendes Ribeiro (Agricultura) pode deixar a pasta caso seu estado de saúde não melhore.Principal aliado do governo, o PMDB, que tem cinco ministros, considera-se sub-representado, mas não pretende reclamar mais espaço. A cúpula do partido concluiu que com a presidente Dilma é inútil mostrar descontentamento quanto às nomeações.Desse modo, o partido prefere ficar "na moita", aguardando que a presidente se lembre, em algum momento, que nas gavetas do Gabinete Civil dorme uma lista com 48 nomes de indicados para cargos em estatais do setor de energia e de transportes.

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