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'Que eu saiba, ser jornalista não é crime'

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Por Redação
Atualização:

"Cheguei a New Haven por volta das 14h30 e fui para a Faculdade de Direito. Quando entrei, me dirigi à segurança na portaria e perguntei onde estava sendo realizado o evento. Ela disse que não tinha informação e sugeriu que eu olhasse nas salas do corredor principal. Não pediu minha identificação nem impediu que eu entrasse. Portanto, não entrei escondido nem forcei a entrada. Andei pelos corredores e conclui que o seminário não estava ocorrendo naquele edifício. Sai de lá e fui ao Wooley Hall, uma sala de concertos da Faculdade de Direito onde seriam realizados os eventos do seminário. As portas do lugar ficam abertas e a entrada é livre. Não havia ninguém para pedir informações na entrada. Subi as escadas e me dirigi a um policial. Perguntei se o evento estava sendo realizado ali. Ele não respondeu e pediu que eu o acompanhasse, o que fiz sem protestar ou resistir. Ele começou a me fazer perguntas. Eu não disse que era jornalista, mas falei que estava em busca do ministro Joaquim Barbosa e que pretendia esperá-lo do lado de fora. Informei meu endereço, telefone e voluntariamente entreguei meu passaporte quando ele pediu uma identificação. Quando estávamos já do lado de fora do prédio, pedi meu passaporte de volta e ele se recusou a entregá-lo. Disse que ele não podia fazer isso. Ele respondeu que sim: "Você sabe quem você é, você é uma repórter. Nós temos sua foto, você foi avisada várias vezes que não podia vir". Ao que respondi que sim, era uma repórter, mas não havia sido alertada "várias vezes" de que não poderia estar ali. Ele respondeu que eu seria presa por "criminal trespassing" (invasão criminosa). Consegui ligar para a Embaixada de Washington e avisar que seria presa. Logo depois, fui algemada. Em nenhum momento me disseram o "Miranda Rights" (leitura obrigatória dos direitos). Fui colocada em um carro de polícia. Por volta das 17h15 fui transferida para um camburão e levada ao distrito policial. Pedi para dar um telefonema, mas não permitiram. Fui colocada numa cela, dessas que vemos em filmes americanos. Havia um vaso sanitário e um policial fornecia papel higiênico pela grade. Fiquei cerca de 3h30 na cela. No total, permaneci quase cinco horas incomunicável. Só dei o primeiro telefone às 21h20, pouco antes de ser solta. A grande questão é por que fui presa se não ofereci resistência e pretendia sair do prédio. Ao que eu saiba, ser jornalista não é crime tipificado pela legislação americana.

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