PUBLICIDADE

PT cobrava 'pedágio' em contratos do Banco do Brasil, afirma Marcos Valério

O operador. Em depoimento à Procuradoria-Geral da República em 24 de setembro, após ser condenado pelo Supremo Tribunal Federal, empresário mineiro relatou que 2% do valor destinado a agências de publicidade eram direcionados para contas do partido

Foto do author Fausto Macedo
Por Felipe Recondo , Alana Rizzo , Fausto Macedo , BRASÍLIA e BRASÍLIA
Atualização:

O empresário Marcos Valério Fernandes de Souza afirmou no depoimento prestado em 24 de setembro à Procuradoria-Geral da República que dirigentes do Banco do Brasil estipularam, a partir de 2003, uma espécie de "pedágio" às agências de publicidade que prestavam serviços para a instituição financeira pública: 2% de todos os contratos eram enviados para o caixa do PT, acusou o homem apontado como o operador do mensalão pelo Supremo Tribunal Federal. Em dois anos, os repasses do Banco do Brasil às cinco agências de publicidade com as quais mantinha contrato superaram R$ 400 milhões - uma delas era a DNA Propaganda, de Valério. Ou seja, segundo o empresário disse à Procuradoria-Geral da República em setembro, os desvios dos cofres públicos que abasteceram o mensalão podem ter sido maiores do que os que levaram o Supremo Tribunal Federal a condenar Valério e o ex-diretor do Banco do Brasil Henrique Pizzolato.Segundo concluiu a Corte no julgamento que está prestes a se encerrar, R$ 2,9 milhões foram desviados do contrato da DNA com o Banco do Brasil para o mensalão. Outros R$ 74 milhões foram desviados do contrato da DNA com o Fundo Visanet, do qual o BB fazia parte. O Estado revelou ontem que, neste mesmo depoimento de três horas e meia, dado à subprocuradora da República Cláudia Sampaio e à procuradora da República Raquel Branquinho, o empresário mineiro afirmou que dinheiro do esquema que pagou parlamentares do Congresso Nacional entre 2003 e 2005 também serviu para bancar "despesas pessoais" do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. O dinheiro foi depositado, disse Valério, na conta de uma empresa de Freud Godoy, que foi assessor pessoal de Lula.O empresário mineiro afirmou ainda, entre uma série de novas acusações, que o ex-presidente deu "ok" para os empréstimos com os bancos BMG e Rural que viriam a irrigar o mensalão.Na ocasião do depoimento, Valério, além de fazer novas revelações, afirmou que tinha mais a dizer sobre o caso. Queria, em troca, proteção policial e redução da sua pena - ele viria a ser condenado a mais de 40 anos pelo Supremo por sua participação no mensalão. Valério responde ainda a outros processos, como o do mensalão mineiro, no qual políticos são acusados de desviar dinheiro público do governo de Minas Gerais a fim de abastecer, no ano de 1998, a campanha à reeleição do então governador tucano Eduardo Azeredo, ex-presidente nacional do PSDB e hoje deputado federal.Segundo Valério disse no depoimento, o suposto esquema de desvio de dinheiro público que teria de ir para a publicidade foi criado por Pizzolato e Ivan Guimarães, ex-presidente do Banco Popular do Brasil, que integra a estrutura do Banco do Brasil.O ex-diretor do Banco do Brasil negou ontem que tenha cobrado "pedágio" das agências de publicidade. Guimarães não foi localizado pela reportagem.No período de operação plena do mensalão, entre 2003 e 2004, quando uma série de parlamentares fez saques das contas das empresas de Valério, o Banco do Brasil pagou, segundo dados CPI dos Correios, pelo menos R$ 434 milhões a agências de publicidade. Ao longo desse período de dois anos, a agência DNA, uma das empresas de Valério, que detinha um dos contratos com o Banco do Brasil, aumentou sua participação nos acordos enquanto o bolo recebido pelas demais agências declinava aos poucos. Ainda no primeiro ano de governo do ex-presidente Lula, em 2003, a DNA, que já trabalhava com o Banco do Brasil durante o governo do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, conseguiu renovar o contrato com a instituição financeira pública. Renovações. O valor estimado dos gastos anuais de publicidade com a DNA era de R$ 152,8 milhões, segundo informações do Ministério Público Federal. A renovação teria rendido a Pizzolato mais de R$ 300 mil de contrapartida, segundo dados usados pelos ministros do Supremo para condenar o ex-diretor do banco corrupção passiva, lavagem de dinheiro e peculato, com pena de 12 anos e sete meses de prisão.Além da DNA, a licitação 01/2003 originou contratos com a Ogilvy Brasil Comunicação Ltda. e a D+Brasil Comunicação Total. Já havia contratos em andamento desde 2002 com as agências Grottera Comunicação e Lowe Lintas Partners , que continuaram a ser prorrogados a partir de 2003, início do governo Lula.Abrangência. Os contratos firmados em setembro de 2003 entre o Banco do Brasil e as cinco agências alcançavam todo o conglomerado do Banco do Brasil, incluindo empresas ou entidades que fossem criadas e a Fundação Banco do Brasil. Comandado por Ivan Guimarães, o Banco Popular do Brasil funcionava como uma subsidiária integral. Seu funcionamento foi autorizado em dezembro de 2003. Ivan Guimarães também esteve envolvido no episódio da compra do apartamento da ex-mulher de José Dirceu por Rogério Tolentino, sócio de Marcos Valério.

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.