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Procurador diz que 'nada deixará de ser apurado' sobre depoimento de Valério

O operador. Roberto Gurgel afirma que eventual investigação sobre envolvimento de Lula com o mensalão irá para 1ª instância e que, embora tenha recebido dois comprovantes de depósitos, é preciso cautela para analisar as informações dadas pelo empresário

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Por MARIÂNGELA GALLUCCI e BRASÍLIA
Atualização:

O procurador-geral da República, Roberto Gurgel, afirmou ontem que "nada deixará de ser investigado" ao ser questionado sobre acusações do suposto envolvimento do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva com o esquema do mensalão. Gurgel confirmou ter recebido documentos do empresário Marcos Valério Fernandes de Souza, no depoimento no qual disse que dinheiro do valerioduto pagou despesas pessoais de Lula e que o ex-presidente deu aval para empréstimos que irrigaram o esquema.Gurgel afirmou que vai tomar providências para investigar o que for necessário em relação às declarações de Valério, cujo teor foi revelado na semana passada pelo Estado. O procurador-geral disse que, se houver algo a ser investigado em relação a Lula, o assunto será encaminhado ao Ministério Público Federal que atua na primeira instância, no Distrito Federal ou em São Paulo. Ao deixar a Presidência da República, no fim de 2010, Lula deixou de ter direito a foro privilegiado no Supremo Tribunal Federal."Quanto especificamente ao presidente Lula, eventual investigação já não compete ao procurador-geral da República, já que o ex-presidente não detém prerrogativa de foro", disse Gurgel. Embora tenha dito que vai analisar o conteúdo do depoimento de Valério, o procurador levantou algumas dúvidas sobre as declarações. "Com muita frequência, Marcos Valério faz referência a declarações que ele considera bombásticas. E quando nós vamos examinar em profundidade, não é bem isso."Depósitos. O procurador disse que Valério prestou um único depoimento ao Ministério Público Federal, em setembro. "Ele entregou alguns documentos, muito poucos, e esses documentos agora serão avaliados para que se possa tomar as providências necessárias à apuração." Segundo Gurgel, o empresário entregou dois comprovantes de depósito. "Isso tem que ser avaliado, quem são os beneficiários desses depósitos, em que contexto isso foi feito."O depoimento de Valério foi prestado em 24 de setembro. Na ocasião, além de apontar o envolvimento de Lula no esquema de compra de apoio ao governo no Congresso, o operador do mensalão disse ter sido ameaçado de morte por Paulo Okamotto, diretor do Instituto Lula e amigo pessoal do ex-presidente. "Tem gente no PT que acha que a gente devia matar você", teria dito Okamotto a Valério.Gurgel disse que preferia esperar a conclusão do julgamento do mensalão para começar a análise das declarações de Valério. Entre o depoimento, dado por iniciativa do empresário depois de ter sido condenado pelo Supremo, e o fim do processo, na segunda-feira, passaram-se quase dois meses. "Concluído o julgamento, agora eu vou sim analisar o depoimento e serão tomadas as providências, enfim, que são cabíveis para completa investigação de tudo que demande apuração", declarou Gurgel.No julgamento do mensalão, que durou quatro meses e meio, o procurador-geral teve grande êxito. Ele conseguiu convencer o STF a condenar 25 dos 37 réus do processo. Desses, 11 condenados - entre os quais o ex-ministro-chefe da Casa Civil José Dirceu - foram punidos com penas que devem começar a ser cumpridas em regime fechado. Os réus também foram condenados a pagar multas que, em alguns casos, superam os R$ 2 milhões.

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