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Plebiscito no Pará revela dois tipos de separatismo

Enquanto Carajás vislumbra investimentos, Tapajós aposta nos repasses federais

Por Daniel Bramatti e BELÉM
Atualização:

O plebiscito de hoje vai mostrar um Pará dividido em três, mesmo que sejam derrotadas as propostas de criação dos Estados de Tapajós, no oeste, e Carajás, no sul - o cenário mais provável, segundo admitem os próprios separatistas.Não há dúvidas de que a proposta de separação sairá vitoriosa por larga margem nas áreas que formariam novas unidades autônomas na Federação. É o eleitorado de Belém e arredores, muito mais numeroso, que deve impedir a separação - o que pode amplificar a sensação de "marginalidade" dos moradores das demais regiões do Estado.A campanha mostrou que as áreas periféricas do Pará não se sentem economicamente atendidas pelo governo, nem são culturalmente identificadas com a capital. Mas Carajás e Tapajós também têm pouco em comum - são dois separatismos muito diferentes.O sul, cuja "capital" é Marabá, é uma área de colonização recente, que começou a inchar a partir da construção da rodovia Transamazônica, nos anos 70, e que continua a atrair imigrantes. Tem hoje uma elite que veio de fora e que vê na criação de um Estado a oportunidade de ganhar influência política e gerenciar a exploração dos recursos naturais abundantes na região.O oeste, por sua vez, tem uma população com raízes de mais de 300 anos e uma história de diversos conflitos com o poder central. Há registros de debates sobre a criação da Província de Tapajós já no século 19. Santarém, a principal cidade da região, tem muito mais vínculos com Manaus do que com Belém.Enquanto Carajás vislumbra um boom de investimentos em mineração, siderurgia e agronegócio, Tapajós tem como principal aposta de viabilidade econômica repasses de recursos federais.História. Tapajós é a palavra que mais se fala na casa do professor Jackson Rêgo Matos. Não apenas porque ele é militante da causa separatista, mas porque hospeda alguns parentes da leva de sete integrantes da família Tapajós - entre eles a mãe, Iolanda Tapajós Rêgo - que viajaram desde Manaus para votar no plebiscito.A casa de Jackson fica em Alter do Chão, às margens do Rio Tapajós. Ao fazer uma obra no quintal, ele encontrou cacos de cerâmica de índios tapajós - tribo da qual sua mãe é descendente. O pai, João Otaviano Matos, falecido, já nos 50 participava de reuniões nas quais se discutia a autonomia de Tapajós. "Nunca tivemos nada a ver com Belém. É para Manaus que as pessoas vão quando precisam trabalhar, estudar ou tratar da saúde."O tio de Jackson, Silas Tapajós Rêgo, é um exemplo: mudou-se para a capital do Amazonas depois que os filhos foram cursar a universidade lá. "Aqui está tudo parado, não tem emprego", afirma, enquanto caminha por seringueiras remanescentes do último grande empreendimento na região: Fordlândia, uma fazenda de exploração de látex, fundada pelo americano Henry Ford nos anos 20, e que faliu em 1945.Indústria. Se os santarenos reclamam da estagnação, os marabaenses mal conseguem medir o volume de investimentos na cidade e região, estimados em US$ 32,8 bilhões até 2014, principalmente da Vale, nos setores de mineração e siderurgia.Enquanto os trabalhadores e desempregados de Marabá são majoritariamente do Maranhão, empresários e fazendeiros são de Goiás, Minas e outros Estados nordestinos - entre eles estão o baiano Duda Mendonça, que comandou o marketing separatista, e o deputado Giovani Queiroz (PDT), mineiro, um dos líderes do movimento pró-Carajás.Com vínculo recente e frágil em relação ao Pará, esse eleitorado tem ainda menos motivos para querer manter laços com a capital Belém.

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