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Para Luciana Genro, Marina é 'via terceirizada' do PSDB

Candidata do PSOL à Presidência da República diz que ex-ministra está ‘à direita de Dilma’ e ‘só parece estar próxima’ das ruas

Por Elizabeth Lopes , Carla Araujo e Valmar Hupsel Filho
Atualização:

SÃO PAULO - A candidata do PSOL à Presidência, Luciana Genro, disse nesta sexta-feira, 22, que a concorrente do PSB, Marina Silva, está “à direita” da presidente Dilma Rousseff e seria uma via “terceirizada” dos tucanos. “Vejo que Marina é muito mais próxima de ser uma segunda via do PSDB do que uma terceira via enquanto alternativa radicalmente distinta do PT e do PSDB”, afirmou a terceira presidenciável a participar da série Entrevistas Estadão. “Se o PSDB perceber que o Aécio (Neves) vai murchar, eles podem adotar a Marina como sua nova (via) terceirizada.”

Luciana classificou o programa de governo de Marina como “ortodoxo” e “sem grandes mudanças” políticas como as defendidas nos protestos de 2013. “Uma coisa é a essência, outra é aparência. A essência da Marina não se liga com o que se reivindicou em junho”, disse. “Marina, na economia, está à direita da Dilma.” 

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A candidata tem se colocado como única com agenda de esquerda e de ruptura com as atuais políticas econômicas baseadas no tripé meta de inflação, câmbio flutuante e metas de superávit primário. Além de defender a suspensão do pagamento dos juros da dívida pública e uma auditoria nesses valores, Luciana se posicionou a favor de políticas liberais em relação a direitos civis, como a descriminalização do aborto e do consumo de maconha.

Para a candidata, a reforma tributária ideal para o Brasil inclui cobrança ou aumento de tributos para igrejas, bancos e operações na Bolsa de Valores, além da taxação de grandes fortunas e redução dos impostos incidentes sobre o consumo. Luciana defende mais participação popular e dos movimentos sociais em decisões de governo. “Meu Ministério da Reforma Agrária estaria nas mãos do MST (Movimento dos Trabalhadores Sem-Terra)”, disse. 

Inflação e dívida pública. Ao ser questionada sobre o combate à inflação, Luciana disse que a política de metas adotadas desde o governo de Fernando Henrique Cardoso (PSDB), após acordo com o Fundo Monetário Internacional (FMI), não tem funcionado e, por isso, pode ser descartada.

Para a candidata, o ideal é o governo ter mais controle sobre preços de alimentos e os administrados, como gasolina e energia. “Nos últimos 20 anos, uma parte significativa da inflação foi resultado dessas tarifas administradas pelo governo. É preciso ter um maior controle dessa parte da economia, o que a Dilma vem fazendo mais ou menos nos últimos anos.”

A candidata prega a necessidade de se auditar a dívida pública, outra ponta do tripé macroeconômico. “Há uma financeirização da economia muito grande, com gastos absurdos com a dívida pública”, disse, alegando que, mesmo nas crises, os bancos mantêm ou elevam seus lucros. “O que o Brasil gasta com a Previdência Social é o mesmo valor do que se gasta com a dívida pública.”

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Reforma agrária e MST. A candidata criticou o que considera uma “concentração de terra gigantesca”, mas disse que “ninguém vai sair expropriando terra do dia para a noite”.

Para Luciana, o Brasil deveria rever o modelo agrícola voltado para a exportação e fazer reforma agrária com terras que não cumprem função social. Uma nova política para produção de alimentos voltada ao consumo interno, afirmou, ajudaria no controle da inflação.

Mais e menos ‘bolsas’. A candidata defendeu o Bolsa Família, mas destacou que a verba destinada ao programa é pequena e que o ideal é tratá-lo como situação transitória. “Hoje o investimento é de cerca de 0,5% do PIB. O valor (para um indivíduo deixar a miséria, hoje em R$ 70 mensais) também não é atualizado desde a época do Lula”, afirmou. “Eu não só manteria, como aumentaria o valor do Bolsa Família. Se acabar com o ‘Bolsa Banqueiro’, sobra mais dinheiro para o Bolsa Família”, disse, referindo-se à política atual que privilegiaria instituições financeiras.

Luciana criticou a atuação dos bancos estatais no financiamento de empresas privadas. Para ela, o BNDES “está fazendo um papel terrível” ao dar prioridade a grandes grupos empresariais em detrimento de pequenos e médios empresários. “Nenhum trabalhador consegue os juros do BNDES, mas a Friboi utiliza esses juros para comprar mais empresas e como uma forma de pressionar o governo para exigir mais benefícios fiscais”, disse. “São doze grupos econômicos que concentraram a maior parte dos benefícios do banco.”

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Mulheres presidenciáveis. Luciana foi questionada por um internauta sobre o fato de, com Marina, haver três mulheres disputando a Presidência. “Não basta ser mulher, é preciso estar do lado certo.” A candidata criticou Dilma por falhas nas políticas para mulheres. “Dilma fez menos de 10% das 70 mil creches que prometeu, o que influencia muito a vida das mulheres”, afirmou.

Para Luciana, a presidente não se posiciona de forma clara com relação à descriminalização do aborto, proposta da qual é defensora, e disse que falta informação nesse debate. “As pessoas não sabem que abortos clandestinos são o quarto motivo de morte materna. No Uruguai, depois de legalizado, não só extinguiram as mortes por essa razão, como diminuiu o número de abortos.”

A linha de raciocínio é a mesma com relação ao uso da maconha. “É preciso acabar com o paradigma da guerra às drogas para acabar com a criminalização da pobreza e tirar os usuários das mãos dos traficantes.” 

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Luciana ainda classificou a luta contra a homofobia como “inegociável”. “Dilma cumpriu um papel muito nefasto ao terminar com o programa Escola Sem Homofobia por pressão da bancada evangélica. Temos de fazer uma guerra frontal contra a homofobia.”

'Marina está à direita da Dilma' Foto: Alex Silva/Estadão

Relações partidárias. As críticas da candidata se estendem a Lula, principal nome do partido ao qual Luciana foi filiada e acabou expulsa ao votar contra a reforma da Previdência, no primeiro mandato do ex-presidente. Para ela, Lula não cumpriu compromissos com trabalhadores que lhe deram suporte político. “Lula acabou revelando ao Brasil que nunca foi de esquerda”, disse. “Ele propôs medidas ao Congresso que eram totalmente o contrário do que o PT sempre defendeu.”

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Citando o escândalo do mensalão, Luciana disse que a forma de governar do PT criou um “balcão de negócios” no Congresso. “Eu sou a favor de defender os interesses do povo. Podem me chamar de populista, se isso significar defender o povo. Para defender os interesses do capital, já existem partidos como PT e PSDB.”

A candidata comentou suas diferenças políticas com o pai, o governador do Rio Grande do Sul, Tarso Genro, que se manteve no PT e defendeu a “refundação” do partido após o mensalão. “Claro que nunca é fácil para um pai aceitar que uma filha diverge de sua posição política, mas temos uma relação em que eu o admiro muito.”

Questionada como governaria sem fazer alianças e acordos com outros partidos, Luciana disse que não formaria um governo só com políticos. “Acho que muitas pessoas não são de partido nenhum e podem ajudar no governo, mas não teria problema em chamar políticos de outros partidos aliados”, disse a candidata do PSOL.

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