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Países vizinhos temem influência de manifestações de centrais

Na véspera da cúpula do Mercosul, empresários e sindicalistas demonstravam preocupação e entusiasmo, respectivamente

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Por João Villaverde
Atualização:

Montevidéu - A influência regional do Brasil na América do Sul começa a ser temida por empresários e desejada por sindicalistas de países vizinhos quando o assunto é a greve geral preparada para hoje pelas centrais sindicais brasileiras. Na véspera da reunião de cúpula do Mercosul, que começa hoje na capital do Uruguai, empresários e sindicalistas latino-americanos demonstravam preocupação e entusiasmo, respectivamente, com o movimento brasileiro.Um dos principais nomes do mundo sindical da região, Héctor Castellano, afirmou ao Estado que as centrais brasileiras parecem ter "acordado" para as dificuldades enfrentadas pelos países sul-americanos. Ele vê como positiva a ideia de saírem às ruas hoje para reivindicar o fim do fator previdenciário e a redução da jornada de trabalho para 40 horas por semana, entre outros itens da pauta sindical."O movimento sindical deve ser a massa crítica do desenvolvimento, especialmente na América Latina, onde o crescimento econômico tem sido puxado justamente pelo avanço dos salários, que sustentam o consumo interno", disse Castellano, que é secretário técnico da Coordenação das Centrais Sindicais do Cone Sul (CCSCS) e dirigente nacional da PIT-CNT, a maior central sindical do Uruguai, que representa cerca de 700 mil trabalhadores. "Essa convocação das centrais é diferente das manifestações que tomaram o Brasil em junho. Falamos agora de um movimento organizado, não espontâneo", disse Castellano, que elogiou o "razoável" consenso formado entre CUT, Força Sindical, UGT e as demais centrais.Próximo dos sindicalistas brasileiros, Castellano elogiou a gestão de Luiz Inácio Lula da Silva no Palácio do Planalto, de quem se aproximara na década de 1990. A central uruguaia PIT-CNT vive um momento semelhante ao da Central Única dos Trabalhadores (CUT), uma vez que apoia o governo federal de seu país, exercido desde 2005 pela Frente Ampla, hoje tendo na presidência o ex-guerrilheiro tupamaro José Mujica. O dirigente sindical uruguaio vai se reunir com líderes sindicais brasileiros na semana que vem, em São Paulo, para participar de um balanço do movimento de hoje no País.Influência. Um empresário do ramo têxtil e dirigente de uma associação patronal uruguaia afirmou que a greve geral no Brasil assusta todos os empresários dos países vizinhos. Ele falou sob a condição de anonimato porque teme represálias internas."O crescimento econômico está mais lento em todos os países, as condições de competição estão ainda mais acirradas. Não podemos nos dar ao luxo de ter um dia de produção e vendas parado por uma greve geral", afirmou o empresário, que apontou como um risco grave a possibilidade de movimentos sindicais como o preparado no Brasil influenciarem protestos semelhantes em outros países.Durante a reunião do Mercosul, que começa hoje e termina na sexta-feira em Montevidéu, dois outros fóruns serão realizados - um empresarial e outro sindical. As propostas discutidas durante os fóruns serão levadas depois aos governos.

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