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Os troféus do veterano de Limeira

Paulo Barros Camargo assumiu o comando do Tiro de Guerra de Limeira, aos 16 anos, para defender a cidade das tropas federais

Por CAMPINAS
Atualização:

Fotos, oratórios, imagens de santos, facões, baionetas, capacetes de aço, medalhas e reproduções de documentos cobrem as quatro paredes da sala de visitas de Paulo Barros Camargo, de 96 anos, último sobrevivente em Campinas da Revolução de 32. Esse acervo histórico e sentimental enche de orgulho o velho guerreiro que, ainda adolescente, comandou em Limeira, onde morava, o Tiro de Guerra n.º 264, quando os homens adultos partiram para as trincheiras.Camargo tinha 16 anos de idade e era aluno do ginásio municipal no dia em que assumiu o policiamento da cidade, como comprova um certificado Estado Maior do MMDC, 2.ª Zona, documento de destaque em sua coleção. "Eu andava fardado e com um fuzil nas mãos, mas não precisei dar nenhum tiro", lembrou, ao contar sua atuação no movimento. Ele e seus subordinados cuidavam da guarda do município e do abastecimento do batalhão de conterrâneos que lutavam nas linhas de frente. O entusiasmo era grande, toda a população contra Getúlio Vargas, quando se abriu o alistamento na região de Campinas, um dos principais focos de resistência à ditadura. "Era propaganda de todo jeito, ninguém aguentava mais o Getúlio, até crianças brincavam de guerra", disse Camargo, reavivando a memória com a ajuda das filhas, Cecília e Maria Angélica, que moram com ele. É em companhia delas e do neto Sérgio, filho de Cecília, que o veterano comparece, todos os anos, às comemorações de 9 de Julho, no mausoléu de Campinas. Ele tem mais uma filha, Maria Luíza, e mais dois netos. Boina. Camargo trocou por uma boina o capacete pesado com que costumava participar dos desfiles como presidente de honra do Núcleo do MMDC em Campinas. Nascido na Fazenda Itaúna, no município paulista de Pederneiras, ele se mudou para a cidade em 1970, depois de ter morado em Limeira e em Marília. Foi funcionário da Secretaria da Fazenda do Estado e aposentou-se em 1976, como chefe de seção na Delegacia Estadual Tributária. Vive de uma aposentadoria em torno de R$ 2 mil, mais uma pensão de ex-combatente, de pouco mais de R$ 400.Medalhas. Nas comemorações cívicas, Camargo enche o peito de medalhas e faz continência para a bandeira e para todos os militares que encontra ao redor, sejam oficiais ou não. Na última formatura dos cadetes da Academia de Barro Branco, turma Constitucionalistas de 1932, dia 24 de maio, era o único veterano civil presente. Voltou para casa orgulhoso da homenagem que recebeu diante do governador Geraldo Alckmin e dos comandantes do Exército e da Polícia Militar. Segundo o coronel Mário Fonseca Ventura, presidente da Sociedade MMDC, ainda há 41 sobreviventes da Revolução de 1932, todos com mais de 98 anos - com exceção do caçula Paulo Barros Camargo, que se alistou com 16 anos. Nenhum deles vive na capital e alguns são de outros Estados. / JOSÉ MARIA MAYRINK

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