Ao contrário do que ocorreu em novembro, quando o PPS foi sozinho à Procuradoria-Geral da República cobrar explicações do PT e do governo, as recentes denúncias do empresário Marcos Valério de Souza - que citam diretamente o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva - animaram os partidos de oposição a agir em bloco. Ontem, parlamentares de PSDB, DEM e PPS protocolaram uma representação para que o procurador-geral da República, Roberto Gurgel, investigue o ex-presidente por envolvimento com o mensalão.No documento, as três siglas chamam Lula de "o verdadeiro chefe da organização criminosa" e afirmam que o ex-presidente pode ser enquadrado pelo crime de corrupção passiva por ter-se beneficiado de recursos desviados por Marcos Valério, condenado pelo Supremo Tribunal Federal (STF) e apontado como operador do esquema.Para pedir a investigação de Lula, PSDB, DEM e PPS tomaram como base o depoimento de Valério ao Ministério Público, revelado anteontem pelo Estado. Nele, o empresário afirma que Lula deu o "ok" para o esquema e teve despesas pessoais pagas com dinheiro do valerioduto.A representação destaca que o depoimento é uma acusação direta a Lula. "O Sr. Marcos Valério Fernandes de Souza denunciou formalmente o ex-presidente da República Luiz Inácio Lula da Silva, afirmando que o mesmo era o verdadeiro chefe da organização criminosa que operou o 'mensalão', beneficiando-se inclusive pessoalmente dos recursos roubados", diz o texto.As acusações "são gravíssimas e precisam ser investigadas a fundo", prossegue o documento. "Não está se tratando mais de suposições, elucubrações, presunções ou teorias." Por isso, "os representantes vêm perante esta douta Procuradoria-Geral da República para requerer a devida investigação criminal e, caso sejam confirmados os fatos, que seja promovida a competente ação penal pública em face do ex-presidente da República Luiz Inácio Lula da Silva e de quem mais estiver envolvido."Inevitável. O pedido é assinado pelo presidentes do DEM, José Agripino (RN), pelo presidente do PPS, Roberto Freire (SP), pelos líderes do PSDB no Senado, Alvaro Dias (PR), e na Câmara, Bruno Araújo (PE), e pelo líder do PPS na Câmara, Rubens Bueno (PR). "Eu acho inevitável a abertura de inquérito diante dos novos fatos revelados pelo Estado", afirmou o tucano Alvaro Dias. "É a resposta que o Ministério Público tem de oferecer a uma exigência nacional, especialmente após o julgamento", completou. Os partidos pediram ainda uma cópia do depoimento de Valério, que não está protegido por sigilo. "É uma denúncia que atinge um ex-presidente e que merece o conhecimento de toda a sociedade", diz o presidente do PPS, Roberto Freire. Em atuação paralela, a oposição tentará ouvir Marcos Valério em comissões da Casa. "A reportagem traz dados concretos, circunstanciando o depoimento, que está assinado pela subprocuradora-geral da República e pelo advogado de Valério. São fatos gravíssimos que precisam ser esclarecidos", disse Agripino.