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O ‘trem fantasma’ do minsitros da Justiça

Cardozo diz que pasta que dirige enfrenta diariamente 'situações de susto'

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Foto do author Fausto Macedo
Por Fausto Macedo
Atualização:

Diante de um expressivo 'PIB' da advocacia de São Paulo - uma centena de advogados, juristas e criminalistas de renome, muitos dos quais frequentemente batem nas operações da Polícia Federal -, o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, defendeu ontem a corporação e comparou a pasta que dirige a um "trem fantasma".

"Eu costumo dizer à presidente Dilma, eu digo a ela: a senhora me deu um parque de diversões que só tem um brinquedo, o trem fantasma. Porque todo dia nós temos situações de susto, fatos que nos geram preocupação", disse Cardozo em reunião-almoço no Jockey Club, onde foi homenageado pelo secular Instituto dos Advogados de São Paulo (Iasp), uma história de 139 anos.

Na exaltação à PF, Cardozo foi enfático quando fez menção ao cerco a clientes em potencial dos notáveis doutores que ocupavam as mesas. "A Polícia Federal tem tido um papel muito importante no combate à criminalidade no País, dentre outras formas de crime os chamados crimes do colarinho branco, as situações de corrupção."

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Ele conquistou aplausos quando fez ironia. "É muito curioso porque toda vez que a Polícia Federal prende alguém que, do ponto de vista político, é tido como adversário do governo, a acusação que tem é que o ministro (da Justiça) está instrumentalizando a Polícia Federal para os desígnios governamentais. Quando, porém, a PF prende pessoas que são aliadas ao governo se diz que o ministro perdeu o controle da Polícia Federal. Ou seja, não há escapatória."

"Decidam", pediu Cardozo. "Eu instrumentalizo ou eu não tenho controle. Quando, na verdade, não é nem uma coisa, nem outra. Quer dizer, se construiu a ideia, e que eu defendo e defenderei sempre, que a Polícia Federal é uma polícia republicana, que aja com autonomia."

Para ele, "o ministro deve intervir apenas e tão somente quando há abusos". "Não havendo abusos a polícia tem que seguir o seu caminho", pregou. Ele disse que, "entre essas tensões todas, cotidianas, que se colocam, que se afirmam, o ministro tem que escolher ou eleger algumas prioridades".

Cardozo ressaltou que o Ministério da Justiça superou a fase da vinculação às estruturas autoritárias de governo. "(O ministério) teve um papel perverso na época da ditadura militar. Eu me lembro quando presido a Comissão de Anistia, que é um dos órgãos da pasta. A comissão tem que anistiar pessoas que sofreram ações da ditadura militar. Uma das coisas que o ministro tem que fazer é pedir desculpas ao anistiado por aquilo que o Estado brasileiro fez. Isso me emociona muito. Eu era muito jovem na época da ditadura, mas senti o que ela fez."

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Falou da "diferença dos tempos" e fez alusão a Armando Falcão, ministro da Justiça do governo Ernesto Geisel (1974-1979) cuja marca era o silêncio. "No passado, os ministros da Justiça diziam 'Não tenho nada a declarar'. Hoje, eu sou obrigado a declarar e pedir desculpas."

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