O que se há de fazer

Por Dora Kramer
Atualização:

Convenhamos, é duro um partido chegar ao auge de sua trajetória política, ocupar a Presidência da República em condições de popularidade nunca antes vistas neste País e, de repente, se deparar com a possibilidade de ver companheiros de jornada na cadeia.Não como presos políticos, mas como prisioneiros comuns, condenados com base no Código Penal por Corte autônoma em vigência plena das regras democráticas e sistema de transparência total.Reconheçamos, não é fácil para o PT ver a situação mudar tão radicalmente, indo de dono absoluto da situação, agente de mandos e desmandos, para o canto das cordas.Fala-se que o ex-presidente Lula está inconformado. Relatam-se encontros para discutir uma forma de sair da enrascada que se desenha cada vez mais enroscada.De um deles saiu Rui Falcão, presidente do PT, em sua notória falta de sutileza a denunciar o Supremo Tribunal como instrumento da "elite suja" e da "imprensa reacionária".Resultado prático nenhum, fora a exposição da medida do pânico e da surpresa com o fato de o Judiciário se empenhar em fazer justiça. O PT, Lula e companhia estão atarantados, mas assim como aconteceu quando explodiu o escândalo do mensalão, vencido o momento da defensiva, haverá o tempo da ofensiva.Na época, o talento de Lula aliado à carência de pudor em adotar a tese do caixa 2 propiciou uma volta por cima. No campo político deu certo.Manipularam-se os fatos, gente com poder de influência na sociedade (não só na esfera da oposição partidária) silenciou e tudo parecia arranjado.Agora, porém, é diferente. A bola está com os ministros do Supremo, que têm decidido por larga maioria e mediante acompanhamento do público nas sessões transmitidas pela televisão. Resultados, portanto, incontestáveis.Como será, então, que o PT pensa reagir, se nada de eficaz há para fazer?Denunciar o "golpe" a cortes internacionais? Sair pelo mundo acusando a Corte Suprema do Brasil de ter condenado corruptos? É de se ver quem estará disposto a aderir a tal combate.Melhor assim.Tal como há quem veja retrocesso judicial na condução que o Supremo dá ao julgamento do mensalão, houve quem visse riscos ao Estado de Direito na Lei da Ficha Limpa.O raciocínio era o mesmo adotado agora por Márcio Thomaz Bastos: o perigo de se instalar uma anarquia institucional da qual amanhã ou depois poderia se servir o "guarda da esquina" para ferir direitos e garantias de qualquer cidadão.Mas o que se vê nessa primeira eleição em que se aplica a exigência da ficha limpa é todo dia algum candidato renunciar ou ser impugnado pela Justiça Eleitoral.Sem nenhum abuso e nos conformes da legalidade.Vários são os casos e diferentes os partidos. João Paulo Cunha, do PT, renunciou à candidatura em Osasco porque mesmo se eleito não tomaria posse devido à condenação por peculato, lavagem de dinheiro e corrupção.Severino Cavalcanti, do PP, está impedido de concorrer à reeleição em João Alfredo (PE) porque em 2005 renunciou à presidência da Câmara e ao mandato de deputado para não ser cassado por corrupção.Celso Giglio, do PSDB, não poderá disputar em Osasco por ter tido suas contas rejeitadas pela Câmara Municipal quando prefeito (2001-2004).Valdinei Medina e Rosemberg Alves, ambos do PSOL, saíram do páreo para vereador no Rio. O primeiro porque já foi condenado por roubo e o segundo por suspeita de ligação com milícias.Sem o filtro da ficha limpa esse pessoal poderia tranquilamente concorrer. E pior: se eleger.Coadjuvante. A ministra Marta Suplicy lista três razões pelas quais a candidatura de Fernando Haddad será vitoriosa: "Lula é Deus, Dilma é bem avaliada e eu tenho o apelo de quem faz".Sobre as credenciais do pretendente a prefeito, nem remota menção.

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