PUBLICIDADE

'Não é só quem sai atirando que abala a sociedade'

PUBLICIDADE

Por BRASÍLIA
Atualização:

Relator do mensalão, Joaquim Barbosa interveio ontem ao ouvir votos contrários ao seu no caso da formação de quadrilha. "A formação de quadrilha por pessoas de terno e gravata traz um desassossego ainda maior do que nos trazem os que se consagram na prática dos crimes de sangue", afirmou Barbosa, defensor da condenação da maioria dos réus. Antes da intervenção, a ministra Rosa Weber havia absolvido os acusados. Ela sustentou que, para se configurar crime de quadrilha é preciso que a paz pública seja perturbada, como ocorre nos casos de sequestro, furto ou latrocínio. Para Barbosa, o Supremo estaria caminhando para uma "exclusão sociológica", caso o entendimento prevalecesse. Para ele, essa exclusão não tem amparo no Código Penal. "É só o indivíduo que mora no morro e sai atirando é que abala a sociedade, a tomada de nossas instituições políticas não abala? É preciso que haja crime de sangue para que a paz seja abalada?" Para o relator, houve quadrilha porque os núcleos do esquema realizaram reuniões. "Dinheiro não nasce em árvores, não se colhe dinheiro em árvores." Barbosa afirmou que os crimes cometidos pelo grupo, que envolveram delitos contra a administração pública e o sistema financeiro, abalaram mais a ordem social do que os chamados crimes de sangue. "É um crime horroroso. A pecuniarização da prática política. Não aceito essa exclusão sociológica", afirmou. Mas o relator não convenceu a ministra Cármen Lúcia, que votou em seguida à intervenção. Além de integrar o STF, ela é presidente do Tribunal Superior Eleitoral. "Para que se caracterize a quadrilha é preciso a reunião de elementos do tipo, a associação estável e permanente para a prática de crimes. Nesse caso, pessoas chegaram a cargo de poder político e em empresas de maneira legítima e ali, no cargo, se praticou ato contrário à lei penal", disse ela. / MARIÂNGELA GALLUCCI

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.