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Na curva

Por DORA KRAMER
Atualização:

O tom com que a presidente Dilma Rousseff rechaçou a interferência de partidos em seu governo na entrevista de balanço do ano dada na sexta-feira passada, não foi bem visto entre seus parceiros de aliança.Dilma não disse nada demais quando se anunciou disposta a exigir "cada vez mais critérios de governança" para o preenchimento de cargos nem sinalizou concretamente mudança de rumo no funcionamento da coalizão ao afirmar que não permitirá a interferência de "nenhum partido político" em seu governo.Os integrantes da aliança não se consideraram enquadrados, pois se escoram na distância existente entre o querer e o poder, o falar e o fazer. Portanto, a contrariedade não foi exatamente com as palavras, mas com o modo e o objetivo com que foram ditas. Excetuado o PT, os partidos aliados enxergaram na atitude de Dilma um jogo para a plateia. Respondeu a perguntas dizendo apenas o que se esperava que dissesse.Tal seria se resolvesse afirmar o contrário. Fosse Lula, até diria algo parecido em defesa de seu direito de fazer e acontecer, mas Dilma não pode tanto quanto o antecessor e, além do mais, faz publicamente outro tipo.Até aí, zero problema. A questão dos aliados é o tom de menosprezo, é a ideia de que a presidente posa de Tiradentes com o pescoço alheio. Marca uma boa imagem acentuando a má receptividade dos políticos, construída, diga-se, pelas próprias mãos de suas excelências.Uma ressalva: se culpa a presidente tem nesse cartório, é apenas de tirar proveito de uma rejeição real, e fundamentada, mas ao mesmo tempo nada fazer para alterar a atual lógica das relações com os aliados e ainda recorrer a eles quando é do interesse do governo.É nesse ponto que se concentram as reclamações. Em público ninguém se queixa nem vai se queixar enquanto a popularidade da presidente estiver em alta.Em particular, porém, o pote vai se enchendo de mágoa. O dito é que lá na frente, quando a eleição presidencial vier, e se porventura a maré de aprovação virar, o governo vai precisar da ajuda de todos os partidos. Nesse momento, pode não encontrá-los mais tão amáveis e disponíveis.Tudo vai depender, dizem, de dois fatores: o rumo da economia e a influência de Lula na armação político-partidária para a eleição de 2014.Os políticos - aí incluídos petistas - não se cansam de lembrar que são devedores de Lula, mas de Dilma são credores. Pela eleição de 2010.O raciocínio é o seguinte: todos nadaram nas águas da popularidade do ex-presidente, beneficiaram-se dela. Mas Dilma foi quem se beneficiou da ampla aliança que lhe assegurou vantagens, como tempo de televisão, e impediu que a oposição pudesse contar com elas.Como precisou deles lá, pode vir a precisar adiante quando, então, sempre poderão dizer que conheceram Dilma no poder e não gostaram.Algo se move. O PSDB apanha dia sim outro também por causa de seu modo de fazer auto-oposição enquanto deixa de lado a tarefa de se opor ao governo que lhe foi delegada pelos 44 milhões de votos dados ao partido na eleição presidencial.A crítica é, como algumas obras, baseada em fatos reais. Imprensa, eleitores, correligionários e até dirigentes tucanos concordam que o PSDB é um barco a vagar.Mas, alguma coisa começa a se mexer dentro do partido. Há sinais de vida.São eles o avanço da proposta de realização das prévias para escolha do candidato à Prefeitura de São Paulo e a mobilização da ala jovem tucana, em encontro nacional, a exigir prévias também para as próximas presidenciais e cobrar da cúpula que só seja dada legenda para candidatos ficha-limpa.Foi ali. O presidente da Federação das Indústrias de Minas Gerais, Olavo Machado, sexta-feira pediu para "pensar um pouquinho" antes de responder sobre as palestras que o ministro Fernando Pimentel alega ter feito para a Fiemg, das quais não há registro.Pelo jeito, o alegado contratante pensou e achou melhor nada falar.

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