Na CPI, jornalista acusa Perillo de caixa 2

Bordoni reitera que recebeu R$ 40 mil não declarados de tucano e R$ 90 mil de empresas ligadas a Cachoeira; oposição desqualifica depoimento

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Por Eugênia Lopes e BRASÍLIA
Atualização:

Em mais de seis horas de depoimento à Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) do Cachoeira, o jornalista Luiz Carlos Bordoni reafirmou ontem que recebeu R$ 40 mil em espécie, em junho de 2010, das mãos do hoje governador de Goiás, Marconi Perillo (PSDB). Esses recursos, que não foram declarados por Bordoni à Receita Federal, segundo o jornalista, foram a primeira parcela de um total de R$ 170 mil pagos por Marconi pela sua campanha de rádio ao governo goiano. A maior parte - R$ 140 mil -, ressaltou, veio de caixa 2. Além dos R$ 40 mil que disse ter recebido em um envelope amarelo, conforme revelou ao Estado em 4 de junho, o jornalista disse que recebeu R$ 90 mil de duas empresas ligadas ao esquema do contraventor Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira. O primeiro cheque de R$ 45 mil foi depositado pela Alberto e Pantoja, em 14 de abril de 2011. O segundo, no mesmo valor, veio da empresa Adércio e Rafael Construções e Incorporações, no dia 18 de maio do ano passado.Os dois cheques foram depositados na conta de Bruna Bordoni, filha do jornalista, depois de telefonema que recebeu de Lúcio Fiúza Gouthier, assessor do governador tucano. Segundo Bordoni, Lúcio pegou o número da conta de sua filha para efetuar o depósito dos R$ 90 mil que faltavam ser pagos. "Fica evidente que a campanha do governador Perillo foi financiada com dinheiro do crime organizado", acusou o relator da CPI, deputado Odair Cunha (PT-MG). Antes desses depósitos, Bordoni disse que recebeu outros R$ 10 mil, também pagos em dinheiro vivo, entre outubro de novembro de 2010. Desta vez, segundo ele, o dinheiro foi dado por Jayme Rincón, tesoureiro da campanha de Marconi, que hoje preside a Agência Goiânia de Transportes e Obras (Agetop). Do total de R$ 170 mil, o jornalista afirma que recebeu apenas R$ 30 mil legalmente, que foram pagos pelo comitê financeiro da campanha do tucano, em 21 de setembro de 2010. Todo o resto foi por meio de caixa 2. Sem provas. À CPI, Bordoni reconheceu que não tem nenhuma prova que ateste o recebimento dos R$ 40 mil diretamente das mãos de Perillo. Diante da falta de provas, a tropa de choque do PSDB fez de tudo para tentar desqualificar o depoimento do jornalista. "Ele vem aqui e acusa sem provas", vociferou o deputado Domingos Sávio (PSDB-MG). "Ele é um desqualificado, é uma pessoa polêmica, que já defendeu o nazismo e tem até um monólogo sobre a vagina", ironizou o deputado Carlos Sampaio (PSDB-SP). Ele ressaltou, durante todo o depoimento, que Bordoni cometeu crime fiscal ao não declarar seus ganhos.As investidas dos tucanos para desacreditar Bordoni aparentemente não surtiram efeito nos integrantes da CPI. A maioria saiu convencida de que o jornalista não mentiu. "O fato é que por 14 anos o Bordoni teve relacionamento com o governador Perillo. Era até conhecido como a voz do governador. Agora que ele fez uma denúncia grave, não param de criticá-lo", observou o relator. No depoimento, Bordoni admitiu não ter declarado ao Fisco dinheiro ganho em outras campanhas eleitorais. Citou o exemplo da campanha do deputado Sandes Júnior (PP-GO), que foi candidato à prefeitura de Goiânia, em 2008, e perdeu a eleição. Na época, o jornalista recebeu R$ 50 mil. Mais cedo, Bordoni havia declarado que "nós recebemos dinheiro por fora em todas as campanhas". O jornalista trabalhou nas três campanhas do tucano ao governo do Estado (1998, 2002 e 2010) e na campanha ao Senado (2006). Bate-boca. O depoimento de Bordoni teve momentos de tensão, pontuados com bate-boca de tucanos ora com o senador Vital do Rêgo (PMDB-PB), presidente da CPI, ora com o vice-presidente Paulo Teixeira (PT-SP). Escalado pela cúpula tucana para defender Perillo, o senador Mário Couto (PSDB-PA) se exaltou com o depoente e, aos gritos, deixou a sala da CPI após ser repreendido pela "falta de urbanidade" ao inquirir Bordoni.

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