Muito mais do que seguir o dinheiro

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Por ANÁLISE: Iuri Pitta
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Uma rápida comparação entre o financiamento de partidos e candidaturas pelo mundo mostra que o Brasil está com a maioria dos países que não vetam as doações de empresas e que contam com algum tipo de repasse de dinheiro público às legendas. Inglaterra, Alemanha, Espanha, Japão e os países escandinavos estão nesse grupo. Por sua vez, Estados Unidos, México, Bélgica e França estão entre os que proíbem as empresas de dar suporte financeiro a partidos e aos políticos. Qual é o melhor sistema, então?Democracia não é um sistema perfeito e dá trabalho para ser construído e mantido. Seja qual for a origem dos recursos gastos para levar um partido ou um político ao poder, o histórico dos países que mais avançaram nesse sistema demonstra que é preciso aprimorar a prestação de contas e a transparência do dinheiro que entra nos comitês de campanha e das medidas tomadas por seus beneficiários quando estão no governo, depois da vitória nas urnas.Na Alemanha, país que não faz restrições às doações de empresas, a chanceler reeleita Angela Merkel foi questionada sobre as doações recebidas por seu partido, vindas da família que mais detém ações da montadora BMW, ícone do mundo automotivo. Foram 690 mil (cerca de R$ 2,2 milhões).Opositores de Merkel e defensores de controles mais rígidos da emissão de poluentes dos automóveis ligaram a ajuda financeira da família controladora da BMW à posição do governo alemão de resistir à redução dos limites de dióxido de carbono, tema em discussão no Parlamento europeu. Num país de tanta tradição automotiva como a Alemanha, é uma postura até dentro do esperado e que tem respaldo de parte significativa da sociedade. Ainda assim, tanto Merkel quanto a família Quandt tiveram de se explicar, e negar publicamente a vinculação de uma coisa com a outra. Vale lembrar: a doação não foi da BMW, e sim de seus acionistas, apoiadores do partido da chanceler.O modelo de financiamento político do Brasil se parece com o de países parlamentaristas, mais ainda estamos distantes no que diz respeito ao controle e transparência da coisa pública e de partidos fortes e com programas claros de governo. Essas características - também vistas no presidencialismo dos EUA, que proíbe repasse direto de dinheiro das empresas para os partidos - deveriam ser tão perseguidas por aqui quanto a origem do dinheiro que financia as campanhas eleitorais.

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