Mal falado entre aliados e adversários de sucessivos governos desde a redemocratização, o PMDB fez escola no Congresso. Nas palavras dos próprios peemedebistas, acostumados a dar "governabilidade" às mais variadas administrações desde 1985, os alunos já ameaçam os mestres. A postura de compor com o governo de plantão e ser parceiro preferencial dos partidos que encabeçam a disputa pelo Palácio do Planalto ganhou mais adeptos. Na primeira vertente encaixa-se o PSD, que nasceu governista tanto em Estados sob comando petista como tucano.Nas eleições municipais, a sigla que "não é nem de direita, nem de esquerda, nem de centro" - como definiu o prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab, ao lançar o partido - tanto apoia José Serra (PSDB) na capital paulista, quanto prefeitos do PT na Grande São Paulo.Já o PSB do governador de Pernambuco, Eduardo Campos, hoje trabalha em um projeto de poder para amanhã exercer papel semelhante ao do PMDB: o de parceiro prioritário do governo, com cacife para tomar o posto de vice na reeleição da presidente Dilma Rousseff, ou o de aliado de primeira classe no Congresso, com possibilidade de antecipar para 2014 o plano de lançar candidato próprio a presidente."Cheguei à conclusão de que nos censuravam porque estávamos ocupando o espaço que eles queriam", ironiza o deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ), que adverte os críticos do PMDB a "não cuspir no prato em que ainda não comeram"."O PMDB sempre aderiu em nome da governabilidade e está pagando um preço alto por isso", afirma o vice-líder do partido na Câmara, Lúcio Vieira Lima (BA). Para o deputado, os críticos do "pragmatismo" do PMDB seguem e até aprimoram a cartilha. "Os outros partidos estão tirando a máscara. Hoje o PT é muito mais pragmático que o PMDB, até porque são eles que, no governo, têm instrumentos para praticar o pragmatismo."Supremo. O presidente do DEM, José Agripino (RN) - um dos poucos fundadores do PFL que resistiram na oposição e não migraram para o PSD - culpa o PT pela política do "vale quanto pesa", uma prática da qual, segundo o senador, os aliados do governo aprenderam a tirar proveito. Exemplo concreto disso foi a exigência do deputado Paulo Maluf (PP-SP) de sair na foto ao lado do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva para selar o apoio - e o tempo de 1min26s na propaganda eleitoral - ao petista Fernando Haddad, apesar dos constrangimentos da cena.Além do poder de ajudar ou prejudicar o governo em votações no Congresso, o tempo de televisão tornou-se uma das armas mais valiosas no jogo parlamentar. Com a decisão do Supremo Tribunal Federal que deu ao PSD maior cota de TV e do fundo partidário, hoje qualquer grupo de 25 deputados insatisfeitos em suas siglas pode criar um novo partido e negociar cargos e apoio em troca de 1 minuto no horário eleitoral gratuito."O sentimento partidário foi duramente atingido pela manobra de criação do PSD. Insatisfações que antes eram superadas passam a alimentar o sentimento de que vale a pena arriscar uma nova sigla, em nome do tempo de televisão, do fundo partidário e das facilidades oferecidas pelo governo", disse Agripino.