
26 de outubro de 2011 | 03h08
Na semana passada Dilma Rousseff ainda estava em condições de preservar um pouco da iniciativa de resolver uma questão de evidente quebra de confiança, mas preferiu não fazê-lo a fim de atender circunstâncias outras.
Ao que se sabe fiou-se nos (maus) conselheiros que a orientaram a resistir ao "clima de histeria" para evitar que PT e PC do B se engalfinhassem numa troca de denúncias sobre quem deixou correr mais solto o descontrole com as verbas do Ministério do Esporte: Orlando Silva ou o antecessor e hoje governador do Distrito Federal, Agnelo Queiroz.
Resultado, mais uma vez tornou-se refém dos fatos consumados: novas denúncias a cada dia, pedido de investigação feito pelo procurador-geral da República, solicitação aceita pela ministra Cármen Lúcia, inquérito aberto no STF e Orlando Silva fora do jogo. Esteja ele nesta altura demitido ou não.
Subtraído de autoridade - moral, política e administrativa - pelas circunstâncias que os conselheiros não levaram em conta e a presidente não soube ou não quis avaliar corretamente.
Se a intenção era resguardar a prerrogativa da presidente de decidir, deu-se o oposto: os acontecimentos decidirão por ela.
Outra má ideia foi aquela de determinar a Orlando Silva que se encarregasse de tirar de cena os fatos negativos substituindo-os por uma agenda positiva.
Isso no meio da confusão. O ministro foi à Câmara ontem para tentar mudar de assunto e discutir a Lei Geral da Copa como se ainda houvesse amanhã, mas de novo o tema foi o escândalo.
Não tinha alternativa: apanhou calado, recusando-se a responder a perguntas sobre as denúncias, "em respeito à comissão".
Embaraçoso, mas inevitável. Naquele momento o ministro falava na condição de investigado pelo Supremo. Nem ele tinha mais o que dizer nem a Câmara poderia desconhecer o fato do dia.
O governo pode até tentar estender a agonia, mas não poderá ignorar por muito tempo que a pasta do Esporte está vaga.
Adaptação. Assessores presidenciais vão aos poucos alterando a narrativa sobre as impressões de Dilma e Lula a respeito de Orlando Silva.
Na sexta-feira, segundo os relatos, ambos estariam seguros de que era preciso resistir ao "denuncismo sem provas".
Na segunda, já teriam trocado impressões preocupadas com o volume de denúncias, durante uma inauguração em Manaus.
Vai-se, assim, construindo a saída desonrosa de sempre.
É óbvio que duas pessoas experientes - uma, foi presidente por oito anos, outra seu braço direito e agora na Presidência - sabem bem reconhecer quando estão diante de uma situação de improbidades em série.
Se nunca viram o que está sendo mostrado, ou não olharam e foram desleixados, ou não quiseram ver e foram cúmplices.
Coisa em si. Consta que na reforma de janeiro a presidente Dilma pretende acabar com o conceito de "feudo" pelo qual um ministério é entregue a um partido para fazer dele o que bem entender.
Isso é dito com naturalidade, como se a existência do tal critério não fosse em si um escândalo e também uma distorção da delegação que a população dá ao governante para conduzir a elaboração e execução de políticas públicas por meio dos ministérios.
Inglês ver. Veja o leitor como o Congresso dança conforme a música que toca o Palácio do Planalto: há pouco mais de dois meses senadores lançaram a Frente Suprapartidária contra a Corrupção e a Impunidade, em apoio à dita "faxina" ética da presidente.
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