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Marin é 'escrachado' por morte de Herzog

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Por GIOVANA SCHLÜTER NUNES
Atualização:

Diante de um luxuoso prédio no cruzamento da Rua Padre João Manoel com a Alameda Franca, no bairro dos Jardins, zona sul paulistana, um grupo de cerca de 120 pessoas participou na tarde de ontem de um "ato de escracho" ao presidente da CBF, José Maria Marin, ali residente, apontado como um dos responsáveis pela morte do jornalista Vladimir Herzog, então diretor de jornalismo da TV Cultura. Em 9 de outubro de 1975, Marin - então deputado estadual pela Arena - fez discurso de dura crítica à TV dirigida pelo jornalista. Nele, Marin pedia ação: "É preciso, mais do que nunca, uma providência, a fim de que a tranquilidade volte a reinar, não só nesta Casa, mas, principalmente, nos lares paulistanos". No dia 24 de outubro de 1975, Herzog foi convocado para prestar informações e compareceu na manhã do dia seguinte ao Destacamento de Operações de Informações - Centro de Operações de Defesa Interna (DOI-Codi) do 2.º Exército, na Rua Tutoia, na Vila Marina. À tarde, segundo as autoridades militares, ele teria se enforcado na cela com o cinto do macacão de presidiário. Munidos de faixas, tambores, pandeiros, microfones e um carro de som, o grupo entoava canções compostas especialmente para a ocasião, como "olha a ficha suja do Zezé, será que ele é, será que ele é dedo duro?". A manifestação foi pacífica e bloqueou duas faixas da Avenida Paulista por cerca de 20 minutos.Para Alessandra Goes Alves, estudante de Jornalismo, a manifestação "é uma maneira de mostrar que a juventude não é tão despolitizada quanto falam". José Luiz Del Roio, viúvo de Ísis de Oliveira, militante de esquerda desaparecida durante a ditadura, ressalta a importância de resgatar a memória histórica do País. "O período de 21 anos de ditadura militar é misterioso e se arrasta; um grande país tem que resolver seus problemas, não só sociais, mas de memória e história", diz.Os "escrachos", comuns na Argentina e no Chile, começaram a ocorrer em abril, por ocasião do início das discussões na Comissão da Verdade. Desde então, os escrachos mais importantes, segundo os responsáveis pelas manifestações, foram a Harry Shibata, médico legista que assinou o atestado de óbito de Herzog; e a Luiz Antonio Fleury Filho, que comandava o Estado de São Paulo em outubro de 1992, data do massacre na Casa de Detenção do Carandiru, que causou a morte de 111 presos.

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