Marcos Valério vai ser ouvido de novo pela Procuradoria da República

Procuradores do Distrito Federal querem esclarecer pontos do depoimento prestado em setembro do ano passado pelo operador do mensalão

Por ALANA RIZZO E FELIPE RECONDO
Atualização:

BRASÍLIA - A Procuradoria da República no Distrito Federal vai ouvir de novo o empresário Marcos Valério Fernandes de Souza sobre as acusações feitas por ele em depoimento prestado no dia 24 de setembro do ano passado. Durante o julgamento do mensalão, Valério foi espontaneamente à Procuradoria-Geral da República, em Brasília, afirmar, entre outras coisas, que Luiz Inácio Lula da Silva foi beneficiado pelo esquema. O empresário disse ainda que o ex-presidente deu "ok" para os empréstimos bancários fraudulentos que viriam a irrigar o mensalão. Lula classifica o depoimento de mentiroso. Os procuradores responsáveis pelas seis investigações preliminares abertas pelo Ministério Público local consideram que esse seria um passo necessário para saber se os procedimentos devem ser levados adiante ou se devem ser arquivados. Eles explicam que Valério, em vários momentos, restringiu o relato dos fatos a poucas linhas, em determinados pontos, a apenas duas linhas de depoimento.É o caso, por exemplo, das acusações que fez segundo as quais o dinheiro do mensalão também pagou a campanha do senador Humberto Costa (PT-PE) ao governo de Pernambuco. Também é o caso da afirmação segundo a qual o Banco do Brasil cobrava "pedágio" de empresas de publicidade para financiar os cofres do PT. Por conta disso, procuradores consideram inevitável que Valério seja novamente ouvido, seja pessoalmente pelos integrantes do Ministério Público ou pela Polícia Federal. Cada um dos seis procedimento preliminares abertos pelo Ministério Público Federal em Brasília foi distribuído para um procurador diferente. Outros dois fatos narrados no depoimento do operador do mensalão já estão sendo investigados pelo Ministério Público. Responsável por uma das apurações, o procurador José Robalinho Cavalcanti afirmou que a decisão de desmembrar as apurações em seis foi praticamente unânime. "Não havia conexão dos fatos entre si. Os fatos não eram conectados entre si do ponto de vista legal e, em alguns casos, nem factual", afirmou o procurador. O depoimento de Valério foi inicialmente remetido pela Procuradoria-Geral da República para o Ministério Público Federal em Minas Gerais. Após analisar o teor das acusações do empresário, um procurador mineiro decidiu remeter o caso para Brasília. A Procuradoria da República em Minas Gerais já investiga o repasse de dinheiro para a empresa de Freud Godoy, segurança do ex-presidente Lula. Segundo Valério, por meio dessa transação é que o dinheiro teria chegado ao ex-presidente. Valério foi condenado a mais de 40 anos de prisão pelo Supremo por operar o esquema de desvio de verba para o pagamento de parlamentares na gestão Lula.

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