Macarrão de 'Dilma Palmirinha' não é genovês, dizem chefs de cozinha

Presidente diz que receita, apresentada no horário político como tentativa de humanizar a candidata, seria de Génova, mas especialistas rebatem

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Foto do author Vera Rosa
Por Vera Rosa , Tania Monteiro e Rafael Moraes Moura
Atualização:

O espaguete "genovês" que a presidente Dilma Rousseff prepara no horário político da televisão não é da cidade de Cristóvão Colombo. Além disso, há uma controvérsia sobre sua origem. Ao encarnar a famosa cozinheira "Palmirinha", como o site  da campanha petista batizou a candidata à reeleição, para  humanizar sua imagem, Dilma acabou inventando uma nova receita, que ninguém sabe de onde veio.

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No macarrão bolado pela presidente, já chamado a boca pequena de "dilmês", o "segredo" é misturar a gema de ovo na pasta. "Aí você pega o queijo Grana Padano e joga. Depois põe pimenta do reino moída, branca. Vai ver se não é bom", disse Dilma, em entrevista ao Estado.

Para o chef napolitano Rosario Tessier, dono da Trattoria da Rosario – uma das referências da cozinha italiana em Brasília –, o espaguete de Dilma é o clássico "cacio e pepe", de Roma. Parece a coisa mais simples do mundo, mas a mistura dos ingredientes não pode ser nem muito rápida nem muito devagar, porque senão tudo esfria e desanda.

Macarrão de Dilma não teria a origem que imagina a presidente Foto: Ueslei Marcelino/Reuters

"A gente coloca um pouquinho de gema de ovo para dar liga, queijo Gran Padano, queijo de cabra curado e queima alho, manteiga e cebola só para dar um gostinho", ensinou Tessier. A receita tradicional leva queijo Pecorino, mas há variações.

Na avaliação do chef Ville Della Penna, que já pilotou o fogão do Palácio da Alvorada no primeiro mandato de Luiz Inácio Lula da Silva, a pasta de Dilma é uma "versão" do espaguete à carbonara, só que sem pancetta ou bacon. O genovês "da gema" mesmo leva molho pesto, que tem manjericão.

"No norte da Itália, o carbonara tem pancetta, mas no sul, não. Esse macarrão é um carbonara sem bacon", garantiu Della Penna, que integra a federação italiana dos chefs de cozinha. "Sei lá se é genovês ou não. É meu", definiu Dilma, encerrando a polêmica.

Lulinha. Para provar que tem dotes culinários, apesar da "incredulidade geral", a presidente também explicou ao Estado o modo de preparo de outra receita: a linguiça apimentada com molho de tomate.

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"Mas aí 'ocê' tem de comprar no açougue do Moacir, lá em Porto Alegre, na rua em frente do Hospital Menino Deus", descreveu ela, rindo e caprichando no sotaque mineiro, de Belo Horizonte. "É o seguinte: 'ocê' tira tudo de dentro da linguiça e faz um molho normalzinho de tomate. Bota isso e põe alcaparra. Essa receita é muito boa, mas tem de ser com linguiça apimentada. É o que eles chamam de diavola, molho picante com pepperoni, muito usado em pizza. É apimentadérrimo", comentou Dilma.

Ville Della Penna disse que o nome da linguiça é 'Lulinha'. "É uma coincidência, mas é isso mesmo", divertiu-se o chef. "É uma linguiça apimentada e pouco curada. Você tira os miúdos, refoga com alho e cebola e põe extrato de tomate para fazer um ragu. Fica uma delícia."

A linguiça também pode ser a "do caçador", segundo Rosario Tessier. "Fica muito bom quando se mistura com vários tipos de carne", atestou o chef, que, nesse caso, recomenda um toque final com pimenta calabresa. Em tempos de campanha, então, pimenta nunca é demais.

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