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Lafer defende aprimorar a defesa da informação

Para o ex-chanceler, a espionagem dos EUA expõe a necessidade do Brasil de investir em mais proteção digital

Por Denise Chrispim Marin
Atualização:

O escândalo da espionagem americana no Brasil e o consequente cancelamento da visita de Estado da presidente Dilma Rousseff a Washington expõe a necessidade de investimento "poderoso" do País em mecanismos de defesa da informação, avalia o ex-chanceler Celso Lafer, presidente da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp). "Pela sua própria natureza, esse investimento servirá ao País. Trata-se de um impulso ao conhecimento na era digital", afirma.A reação mais branda dos grandes aliados dos EUA na Europa, igualmente alvos da espionagem da Agência de Segurança Nacional (NSA, na sigla em inglês), teria uma razão pragmática, segundo Lafer: todos têm competência para espionar os EUA e outros países e investem na proteção de sua informação.Situação delicada. Lafer reconhece que a revelação sobre a espionagem da NSA nos gabinetes de Brasília e grandes empresas brasileiras expôs a presidente Dilma Rousseff a uma situação extremamente delicada. "Qualquer encaminhamento seria difícil", afirma. Além dos fatos já expostos ao público sobre a espionagem, ambos os governos estão neste momento vulneráveis a novas revelações, dado o volume de informação sobre o trabalho da NSA no Brasil nas mãos do jornalista Glenn Greenwald, que recebeu o material do ex-funcionário dessa agência Edward Snowden, asilado na Rússia.O ex-chanceler assinala o fato de a presidente, para tomar sua decisão final, ter se aconselhado com o "seu marqueteiro", João Santana, e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Os seus colaboradores diplomáticos não foram escutados. "Ela tomou uma decisão olhando para o âmbito da política interna", afirma, referindo-se aos ganhos de popularidade que a iniciativa poderá trazer para a candidata petista à reeleição em 2014. "A questão é séria. Mas um dos caminhos possíveis seria aproveitar a oportunidade do encontro em Washington para uma discussão mais aprofundada sobre o assunto."Segundo Lafer, o cancelamento da visita de Estado, programada originalmente para 23 de outubro, provoca inevitavelmente uma turbulência na relação bilateral. "Se interesses mais significativos estivessem presentes de lado a lado, porém, os governos do Brasil e dos Estados Unidos saberiam lidar melhor com a situação", emenda. Para ele, a confiabilidade dos EUA no País fora posta em dúvida ao ser revelada a espionagem nas esferas mais elevadas do poder. "Esse fato não pode ser minimizado."

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