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Jornal britânico diz que evangélicos brasileiros empurram política para a direita

'Financial Times' publica reportagem sobre perfil do candidato do PRB à prefeitura do Rio associada à influência de bancada à qual está ligado Crivella

Foto do author Célia Froufe
Por Célia Froufe (Broadcast)
Atualização:

LONDRES - Às vésperas do segundo turno das eleições municipais, o jornal britânico Financial Times traz nesta segunda-feira, 24, uma extensa reportagem com o título: "Evangélicos do Brasil empurram a política para a direita". Com uma foto do senador Marcelo Crivella (PRB), o periódico diz que ele é o grande favorito para se tornar o prefeito do Rio de Janeiro, citado como uma das cidades mais racialmente e socialmente diversas das Américas.

Marcelo Crivella faz campanha na orla de Ipanema e Leblon Foto: Wilton Júnior|Estadão

A reportagem conta que o missionário evangélico que atuou na África durante vários anos descreveu uma vez os católicos e outras denominações cristãs como demoníacos e condenou a homossexualidade como um terrível mal. "Sua vitória iminente nas eleições de segundo turno no dia 30 de outubro reflete um emergente bloco evangélico que está conduzindo a política brasileira para a direita, dizem os analistas, e está prestes a se tornar mais poderoso e influente", traz o texto. A reportagem apresenta a avaliação do deputado Jean Wyllys (PSOL-RJ) sobre o tema, descrito como um parlamentar socialista de esquerda e único membro abertamente gay do Congresso brasileiro: "Não é suficiente para eles evangelizar, eles também querem influenciar a lei". A bancada evangélica tornou-se tão influente, de acordo com o FT, que desempenhou um papel fundamental no impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff em agosto. São 199 assentos do bloco de um total de 513 na Câmara dos Deputados. O jornal lembra que eles se juntaram a outras bancadas conservadoras, como a da segurança pública e a dos ruralistas, para formar o que o Brasil já conhece como os três "Bs": bíblia, boi e bala. O veículo britânico salienta que o impeachment em si foi conduzido por um dos líderes evangélicos mais proeminentes do Congresso, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), então presidente da Câmara. Na semana passada, ele - até então conhecido por defender os "direitos dos heterossexuais" e o endurecimento das leis de aborto para vítimas de estupro - foi preso preventivamente. A ascensão de políticos evangélicos, conforme o FT, reflete, em parte, mudanças da demografia brasileira. Enquanto o País ainda abriga a maior população mundial de católicos, o censo de 2010 mostrou que o número de evangélicos tinha subido de 15,4% de uma década antes para 22,2% naquele ano. O jornal destaca que a nova proibição de doações de empresas para os políticos também servirá para fortalecer o poder desse bloco, já que igrejas não têm de declarar rendimentos ou pagar impostos. Consultado, o cientista político do Instituto Insper em São Paulo Carlos Melo disse que a ascensão das igrejas "mostra uma crise de representação que está afetando a política brasileira em geral". O periódico cita que Crivella conta com apoio de 46% da população do Rio, enquanto o rival de esquerda, Marcelo Freixo, detém 29%. Para manter essa preferência, o FT destaca que Crivella tem procurado se distanciar de suas declarações mais extremas, como a de que religiões africanas foram baseadas em "maus espíritos".  Por fim, o FT explica que Crivella tem se desculpado pelo que escreveu em livro no passado, dizendo hoje que era o trabalho de um jovem missionário cuja imaturidade o levou a cometer "erros lamentáveis". O livro foi publicado quando ele tinha 42 anos. "Eu amo católicos, espíritas, evangélicos, todos. Se eu tiver feito qualquer ofensa na ocasião, peço perdão. O mesmo em relação à homossexualidade", disse ele, segundo ojornal britânico.

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