'Já fui julgado pelas urnas', afirma Lula

Ao comentar o mensalão para o 'La Nación', na Argentina, ex-presidente diz que vitória de Dilma foi 'um julgamento extraordinário'

Por ARIEL PALACIOS
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O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em visita a Buenos Aires, afirmou que já passou por um virtual julgamento sobre o mensalão com a eleição de sua candidata, a presidente Dilma Rousseff, em 2010. "Eu já fui julgado. A eleição de Dilma foi um julgamento extraordinário."A declaração foi dada ao jornal argentino La Nación, em entrevista publicada ontem. Questionado se tem alguma crítica ao julgamento do processo pelo Supremo Tribunal Federal, Lula demonstrou tranquilidade: "Não me preocupo (com o julgamento), absolutamente".O ex-presidente equiparou o resultado de seus aliados nas urnas e o desempenho de sua própria figura nas pesquisas de opinião pública com um tribunal de Justiça. "Para um presidente que teve oito anos de mandato, o fato de terminar com 87% de aprovação popular é um enorme julgamento", disse o ex-presidente, referindo-se à pesquisa de opinião divulgada em dezembro de 2010, dias antes de ele deixar o governo.Na entrevista, que havia sido solicitada há meses pelo jornal, o ex-presidente Lula rejeitou fazer comentários adicionais sobre o caso do mensalão: "Um ex-presidente não pode estar dando palpite sobre o que a Corte está fazendo. Vamos esperar que o processo termine".Alternância. Num momento em que o governo de Cristina Kirchner trabalha para obter maioria absoluta no Congresso com o objetivo de reformar a Constituição e garantir a possibilidade de concorrer a um terceiro mandato consecutivo e em meio a uma onda de reeleições presidenciais na América Latina, Lula também sustentou que "a democracia é um exercício de alternância do poder, não somente de pessoas, mas de setores da sociedade". Lula relatou que, quando era presidente da República "e contava com 87% de aprovação", proibiu que o PT apresentasse qualquer espécie de emenda constitucional para permitir sua segunda reeleição. O ex-presidente também se referiu ao presidente da Venezuela Hugo Chávez, recentemente reeleito, a quem chama carinhosamente de "companheiro". "A Venezuela teve uma eleição, na qual duas pessoas foram candidatas. E eu achava que Chávez seria melhor para a Venezuela."No entanto, o ex-presidente brasileiro sustentou que o colega venezuelano deveria pensar na alternância do poder: "Acho que o companheiro Chávez deveria começar a preparar sua sucessão". Chávez, que governa a Venezuela desde 1999, ficará no poder até 2019.Lula afirmou que a Venezuela "melhorou muito" durante o governo Chávez. "O povo pobre ganhou dignidade. A América do Sul ganhou muito com Chávez. A Venezuela começou a olhar para a América Latina, e por isso defendi a entrada desse país no Mercosul", disse. Futuro. Lula também se referiu a seu próprio futuro político, negando que pense em voltar a ser presidente em 2015: "Isso não se discute no Brasil, já que é um direito da presidente (Dilma Rousseff) a ser candidata à reeleição".No entanto, na entrevista ao La Nación Lula também admitiu que poderia ser candidato em outra eleição presidencial (em 2018 ele terá 73 anos). "Um político nunca pode descartá-lo. O problema é cada vez que me fazem essa pergunta. Se eu digo que não o descarto, a imprensa afirma 'Lula admite que será candidato'. Se eu digo o contrário, dizem 'Lula nunca mais será presidente'."

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