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'Influência de Lula em eleição local é um mito'

Marqueteiro de Eduardo Paes (PMDB) diz que ex-presidente não decide eleições municipais e as disputas em BH e no Recife são dois exemplos

Por Alfredo Junqueira e RIO
Atualização:

Responsável pelo marketing e a comunicação da campanha à reeleição do prefeito do Rio, Eduardo Paes (PMDB), o antropólogo e publicitário Renato Pereira afirma ser um mito a transferência de votos do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva para candidatos em disputas municipais. As eleições em Belo Horizonte e no Recife são dois exemplos. A alta popularidade do ex-presidente não será capaz de reverter o quadro em favor dos petistas nessas cidades, segundo ele. Nem mesmo uma eventual vitória de Fernando Haddad em São Paulo deveria ser atribuída a Lula. Para Pereira, nenhum político, mesmo com a popularidade do ex-presidente, consegue transferir votos para aliados que disputam cargos diferentes. "Lula fez isso com a presidente Dilma Rousseff, que ia substituí-lo e representava a continuidade da sua bem avaliada administração. Isso não se repete em disputas municipais ou estaduais", observou Pereira, que aos 52 anos está prestes faturar sua quarta eleição majoritária consecutiva no Rio de Janeiro. Ele ajudou a eleger Sérgio Cabral Filho governador duas vezes, em 2006 e 2010. Também coordenou a vitória apertada de Paes sobre Fernando Gabeira (PV), em 2008. Além do PMDB do Rio, Pereira coordena o marketing de Henrique Caprilles, candidato da oposição à presidência da Venezuela. No país vizinho, ele trava uma disputa com o baiano João Santana, marqueteiro de Lula e Dilma que trabalha para Chávez. A eleição na Venezuela será no mesmo dia das disputas municipais no Brasil. Para Pereira, o determinante numa eleição municipal é a avaliação do prefeito e de sua administração. O gestor bem avaliado se reelege ou consegue fazer seu sucessor. "O Patrus Ananias (PT) foi um excelente prefeito, tem apoio do Lula e da Dilma, mas a eleição em Belo Horizonte é do Marcio Lacerda (PSB), pois ele tem altíssimo nível de aprovação", afirma Pereira. O contrário ocorre no Recife. Apesar da alta popularidade de Lula, a avaliação negativa do prefeito petista João da Costa e as brigas internas do partido praticamente inviabilizaram a candidatura de Humberto Costa (PT). "É uma eleição de mudança. Não adianta ir o Lula, a Dilma, o papa. Não vai mudar. A chance de qualquer político do PT seria muito pequena", disse o publicitário. As últimas pesquisas de intenção de voto no Recife indicam a disparada de Geraldo Júlio (PSB), candidato do governador Eduardo Campos. A desmitificação da transferência de votos de Lula não significa que sua presença na campanha não seja importante. Nos primeiros programas de Paes, depoimentos do ex-presidente foram usados várias vezes. Lula referendava a principal bandeira do peemedebista: fim das brigas políticas e união do município, Estado e governo federal em favor do Rio de Janeiro. "Não adiantaria colocá-lo pedindo votos para o Eduardo. Mas quando aparece o Lula dizendo que o prefeito trabalhou em parceria e isso está fazendo diferença na vida das pessoas na cidade, aí isso faz muita diferença. É o ex-presidente atestando a narrativa principal do Eduardo." Fenômeno. Para Pereira, a ascensão de Celso Russomanno (PRB) na campanha à Prefeitura de São Paulo era um fenômeno previsível e reflexo do cansaço da população com a atual administração e o embate PSDB x PT. Para Renato Pereira, o atual líder nas pesquisas já está no segundo turno com uma alta faixa de votos consolidados. "Trata-se do populismo voltando com força à cidade mais desenvolvida do País", afirma, comparando Russomanno com os ex-prefeitos Paulo Maluf, Celso Pitta e Jânio Quadros. O marqueteiro diz que, ao concentrar sua atuação política na criação do PSD, ao longo do ano passado, o prefeito Gilberto Kassab não zelou pelo seu principal patrimônio: o nível de aprovação de sua administração. A rejeição a Kassab deixa claro, segundo ele, que a maior parte do eleitorado paulistano optou pela mudança no atual processo eleitoral. "O José Serra já está desgastado e ainda tem que carregar a administração Kassab em sua campanha. O curioso é lembrar que PT e PSDB se digladiaram pela adesão do prefeito às suas coligações no período pré-eleitoral", afirma. Pereira acredita num segundo turno entre Russomanno e Haddad - e que o petista vencerá o pleito em disputa muito acirrada. O resultado, ele ressalta, não será mérito do ex-presidente Lula, que impôs a candidatura do seu ex-ministro da Educação, mas reflexo da vontade de mudança por parte do eleitorado paulistano. "O Lula está fazendo o Haddad. O ex-presidente conseguirá ajudar a convencer o eleitorado que normalmente vota no PT que o Haddad representa o partido. Mas não acredito de jeito nenhum em transferência de popularidade. Isso funcionou com a Dilma, que substituiu o próprio Lula na presidência", reforça Pereira. Venezuela. Enquanto as pesquisas indicam a reeleição de Paes no primeiro turno, o candidato de Pereira na Venezuela está numa disputa muito difícil. O desafio da campanha de Caprilles é manter a moderação. "Qualquer ser humano ou grupo agredido tende a revidar na mesma moeda. E o Chávez trabalha isso o tempo inteiro. Ele é naturalmente agressivo. Ofende e insulta sem parar. Em outras disputas, a oposição venezuelana caiu nessa armadilha e radicalizou também. Mas população está interessada em soluções." Agência. Pereira é dono da agência Prole. Criada em 2005, ela cresceu muito a partir das eleições de Cabral e Paes e os altos incrementos de recursos que eles fizeram em publicidade. De acordo com dados dos portais de transparência do governo e da prefeitura do Rio, a Prole recebeu mais de R$ 180 milhões nos últimos quatro anos. "A maior parte desses recursos foi para os órgãos de comunicação que veicularam a propaganda institucional. Descontando os imposto, ficamos com cerca de 9% desses repasses", disse Pereira.

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