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‘Fragmentação traz empreendedores ao sistema político’ , diz cientista política

Para Silvana Krause, professora da UFRGS, crise impulsiona candidatos com projetos de política empresarial para a administração pública

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Por Alexandra Martins
Atualização:

A desestabilização do atual sistema político brasileiro abriu espaço para os empreendedores na eleição. O que há de comum entre eles, segundo a cientista política e professora da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) Silvana Krause, é o discurso da negação da política. “Há o sujeito que quer inserir uma ótica de competência privada na administração publica”, disse Silvana, presente no 40.º Encontro Nacional da Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Ciências Sociais (Anpocs), que terminou nesta sexta-feira, 28, em Caxambu (MG). 

A cientista política e professora da UFRGS Silvana Krause, durante a Anpocs Foto: Zhekha Amorim|Anpocs

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Como avaliar o avanço dos pequenos partidos neste 2.º turno? Esse fenômeno se inicia na eleição de 2012, que anunciou um processo de ampliação de oferta de partidos no mercado eleitoral. Se em 2012 tivemos 29 partidos que se apresentaram em todo o País, vamos ter 35 em 2016. Em 2008, eram 27. Desde de 1996, havia uma certa estabilidade, mas a eleição de 2012 quebra esse processo dos cinco principais partidos que tinham um controle na maioria dos municípios. Se em 2012, 54% dos vereadores estavam nas mãos dos cinco principais partidos, em 2012 passa para 46% e, neste ano, para 40%. A volatilidade no País também aumentou.

O que isso significa? Significa uma inclusão de novos atores. Esse fenômeno tem algo em comum que é negar uma trajetória política. Nós temos candidatos que se mostram fora da política, que querem ser prefeitos, mas não políticos. É um sujeito bem-sucedido que quer inserir uma ótica de competência privada na administração pública. É um equivoco porque a natureza do setor privado não é a mesma da administração pública. Esse discurso dito novo é semelhante ao dos anos 1990.

Quais são os fatores que contribuem para a entrada dessas novas forças políticas? São muitas as variáveis. Podem ser a crise de legitimidade, a mudança na estrutura social ou a mobilização numa sociedade. No caso brasileiro, predominantemente, são atores deslocados. Você tem o perfil de um partido novo como o PSD, que em 2012 foi a quarta força do País. Você tem outros perfis menos estruturados que são projetos de uma política empresarial. São partidos empreendedores que querem entrar no sistema político. Os pequenos, muitas vezes, denotam um empreendedorismo político de lideranças personalistas. Há figuras regionalizadas que querem empreender, fazer uma carreira, características que são fruto de uma desestabilização do sistema político brasileiro. Na verdade há uma concepção de business party (partido de negócios), um tipo surgido no Leste Europeu após a queda do muro de Berlim. O João Doria (prefeito eleito de São Paulo pelo PSDB), apesar de ser empreendedor da política, tem uma ótica do mundo público. Ele não é o mesmo que o Alexandre Kalil (candidato a prefeito pelo PHS em Belo Horizonte). Quando o Doria amplia sua coligação, ele está olhando para a Câmara Municipal. Não é por acaso que ele forma uma coligação-ônibus. Mesmo que tenha o discurso do gestor, ele sabe que a administração de São Paulo sem uma Câmara que o sustente se torna difícil. Você tem outras lideranças que não têm esse feeling. Nesse ponto, o Doria é mais calibrado.

Quais os principais efeitos da fragmentação do poder? Um deles afeta a construção de uma governabilidade ao trazer uma exigência muito grande sobre as partes. Mas é importante perceber o que é negociado. O eleitor vive um processo de diminuição de preferência partidária, de crescimento de um partidarismo negativo com rejeição a partidos específicos. Por consequência, a previsibilidade é menor. Pensando no mercado, a imprevisibilidade traz riscos. Para uma perspectiva de estabilidade política, isso é muito ruim.

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