Exército vê em Toffoli garantia contra ameaças de ruptura nas eleições

Militares retomam protagonismo na política com Bolsonaro e outras candidaturas; oficiais generais rejeitam ameaça de ruptura institucional

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Por Marcelo Godoy, e Tania Monteiro
4 min de leitura

A volta do protagonismo dos militares ao primeiro plano da política nacional se caracteriza não só pela provável presença de Jair Bolsonaro (PSL) no segundo turno das eleições 2018 e de outras 113 candidaturas de membros das Forças Armadas a deputado, senador e governador. Ele também se manifesta por meio de declarações de generais que reafirmaram, segundo seu ponto de vista, a disposição de manter “a lei e a ordem no País”.

Nesse cenário, o presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), ministro Dias Toffoli, desponta como a garantia do Alto-Comando do Exército contra ameaças de ruptura. Esse não é um tema fácil para os oficiais – a maioria dos ouvidos pelo Estado não quis se identificar. O papel de Toffoli no segundo turno, onde devem se enfrentar Bolsonaro e Fernando Haddad (PT), é considerado fundamental para o equilíbrio do pleito.

Os comandantes da Marinha, almirante Eduardo Leal; do Exército, general Eduardo Villas Bôas, e da Aeronáutica, brigadeiro Nivaldo Rossato Foto: Marcor Corrêa/PR

O ministro deu aos militares três “sinais importantes”. Um integrante do Alto-Comando os enumerou: a decisão de não pôr em votação a prisão em segunda instância, o veto à entrevista de Luiz Inácio Lula da Silva, preso e condenado pela Lava Jato, e o pronunciamento na Faculdade de Direito do Largo São Francisco, em São Paulo.

Toffoli disse, na segunda-feira, que não chamava a derrubada do governo João Goulart, em 1964, nem de golpe nem de revolução, mas de movimento. E expôs a opinião de que, há 54 anos, tanto a esquerda quanto a direita contribuíram para a radicalização e a quebra da ordem institucional. No mesmo dia, proibiu que Lula fosse entrevistado e, na quinta-feira, discursou de novo: “Nunca mais fascismo; nunca mais comunismo”. 

Antes de assumir o STF, Toffoli tomou a iniciativa de encontrar o comandante do Exército, general Eduardo Villas Bôas. Pediu que lhe indicasse um nome para sua assessoria. Villas Bôas assentiu, e o ministro levou para o tribunal o general Fernando Azevedo e Silva, ex-chefe do Estado-Maior.

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“No Alto-Comando, não temos ideia de quebra do estado democrático de direito. Por que o ministro Toffoli solicitou ao Villas Bôas que indicasse um general de Exército? Tem aí várias respostas a essa pergunta”, disse um comandante.

Temor. Se há um mês oficiais temiam eventuais manobras para a soltura de Lula ou que visassem a acabar com a Lei de Anistia – o que seria interpretado como quebra do respeito à lei e à ordem –, o quadro mudou com as ações de Toffoli. A situação era diferente em abril, quando, na véspera do julgamento do habeas corpus de Lula no STF, Villas Bôas se manifestou em “repúdio à impunidade”. Hoje, a preocupação não é apenas com o “processo tapetão” para livrar Lula.

Com Bolsonaro e mais de uma centena de candidatos militares, os generais dizem que os comandantes devem estar atentos para não deixar a política entrar nos quartéis.

De 1945 a 1960, o País sempre teve candidatos militares à Presidência. Desde 1989, houve só um oficial: o brigadeiro Ivan Frota, em 1998. Para os generais, não é possível “ideologizar” as Forças Armadas. Eles lembram a defesa do PT de mudanças nas promoções e nos currículos militares. “Não há risco de Bolsonaro interferir nas promoções”, disse o general Roberto Peternelli Junior, candidato a deputado federal.

Outro temor nas Forças Armadas é de que haja algum tipo de radicalização após a eleição. Embora os generais afirmem que trabalham com o cenário de pacificação do País, possíveis reações a uma vitória de Bolsonaro preocupam. “Até o Bolsonaro, que fez aquela declaração infeliz (dizendo que não reconheceria o resultado da eleição se perdesse), voltou atrás. Não há nada a fazer se ele perder. Eu conheço essa peça (Bolsonaro) desde a escola preparatória”, afirmou um general.

Durante o ano, o apoio ao candidato do PSL se consolidou nas Forças Armadas – generais que tinham dúvidas sobre ele agora o apoiam. As resistências eram antigas, desde a época em que o capitão foi acusado de planejar atentados. Eleito deputado, chegou a ser proibido de entrar em quartéis.

Gradativamente, ele venceu as resistências. Diz o general Alberto Cardoso, ex-ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional do governo Fernando Henrique Cardoso: “O sucesso dele surgiu pela formação, pelo que encarna, uma esperança que surge com a desesperança com o político tradicional”.

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Hoje, quatro integrantes do Alto-Comando são colegas de turma do capitão na Academia das Agulhas Negras. Oito dos 15 integrantes passaram pelo Comando de Operações Especiais. Formam uma confraria.

“Aqui o que mais se ouve é Aço e Selva”, contou outro general, referindo-se às saudações à tropa de origem operacional da maioria do Alto-Comando. “Não há a menor chance de ruptura. Quem espalha isso quer desagregar. Bolsonaro não é radical. Ele é um democrata”, disse o general da reserva Augusto Heleno Ribeiro.

MANIFESTAÇÕES:

Abril/2018Compartilho com os cidadãos de bem de repúdio à impunidade e de respeito à Constituição, à paz social e à democracia, bem como se mantém atento às suas missões institucionais.” Eduardo Villas Bôas - Comandante do Exército

Abril/2018Comandante! Estamos juntos na mesma trincheira! Pensamos da mesma forma! Brasil acima de tudo! Aço!” Geraldo Antonio Miotto - Comandante do Sul

Julho/2018Não podemos transigir com as leis vigentes, buscando atender a interesses pessoais ou até mesmo político-partidários.” Luiz Eduardo Ramos Pereira - Comandante do Sudeste

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