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Ex-ministra compara sua situação à de Lula em 2002

Marina Silva afirma ter visto ‘muito intelectual’ questionar capacidade do ex-metalúrgico de governar o País

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Por Isadora Peron e Valmar Hupsel Filho
Atualização:

A candidata do PSB à Presidência, Marina Silva, comparou nesta sexta-feira, 29, a desconfiança que vem sofrendo de diversos setores da sociedade com a situação vivida pelo petista Luiz Inácio Lula da Silva em 2002, quando foi eleito presidente da República pela primeira vez. 

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Durante o lançamento do seu programa de governo, em São Paulo, Marina afirmou que tem consciência de que os adversários vão tentar desqualificar o seu discurso, mas disse estar “vacinada” para enfrentar a situação. Ex-petista, ela lembrou que viu muito “intelectual” questionando a capacidade de Lula, que era metalúrgico, quando ele foi eleito presidente. 

“Eu estou vacinada. Eu vi muita gente desqualificando o Lula. Mas o povo brasileiro, que elegeu um acadêmico, um operário, haverá de eleger, sim, uma professora que veio lá dos seringais da Amazônia”, afirmou a candidata do PSB.

Em 2002, Lula teve de divulgar um documento, batizado de “Carta ao Povo Brasileiro”, para tranquilizar os investidores e atores econômicos preocupados com o futuro do País caso ele fosse eleito. O programa divulgado ontem por Marina, em que reitera as posições econômicas defendidas por Eduardo Campos - presidenciável do PSB morto num acidente aéreo no dia 13 -, como autonomia do Banco Central, foi comparada por analistas à carta de Lula e bem recebida pelo mercado.

Ela também aproveitou o lançamento do programa para rebater as críticas que vem sofrendo. Negou, por exemplo, ser autoritária, como sugeriu o vice-presidente Michel Temer (PMDB) ao comentar a proposta do PSB de criar uma democracia mais participativa. “Não pode ser chamado de autoritário quem chama a sociedade para fazer o governo”, disse.

Em seu discurso, ressaltou que o Brasil passa por um momento de profunda transformação e que a sociedade tem cada vez mais o desejo de contribuir no debate político. “É necessária uma nova aderência entre as instituições políticas e a sociedade. Temos ferramentas que possibilitam a participação de todos. Isso não tem nada a ver com autoritarismo”, afirmou. 

A candidata do PSB ainda respondeu às críticas do tucano Aécio Neves e reafirmou que pretende governar com a ajuda tanto de Lula quanto de Fernando Henrique Cardoso (PSDB). “Vai ser mais fácil do que se conectar com José Sarney e Antônio Carlos Magalhães ou ficar refém do PMDB”, ironizou.

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A ex-ministra do Meio Ambiente criticou a visão do atual governo de que existe um “Brasil colorido”, um “mundo da fantasia”, mas repetiu a promessa de que irá manter, caso seja eleita, o que já foi feito de bom.

Ao comentar o resultado do PIB (negativo no segundo trimestre), a candidata do PSB afirmou que o fato de o Brasil estar tecnicamente em recessão “é preocupante”. Ela disse ainda que o principal problema é “a falta de confiança e de credibilidade” que o governo petista tem passado aos agentes econômicos.

Tópicos. Marina aproveitou a divulgação de seu programa para refutar possíveis incompatibilidades com o agronegócio. Quando questionada sobre o fato de seu programa de governo apoiar o casamento gay, disse que a proposta leva em conta o respeito aos “direitos civis que estão na Constituição”, e que o fato de ser evangélica não interfere nessa posição, pois sempre defendeu o Estado laico.

Coordenadora do programa de governo de Marina, a socióloga Neca Setubal afirmou que o documento não se pauta pelos “rótulos de direita e de esquerda”. “É claro que existe isso ainda, mas o mundo hoje está com uma visão muito mais completa, muito mais holística do que ficar (rotulando) se é de direita ou esquerda, se é neoliberal ou não”, disse Neca, cuja família é sócia do Banco Itaú.

O também coordenador do programa do PSB, o ex-deputado Maurício Rands, defendeu que, “sem uma economia estabilizada, com planejamento de longo prazo, e capaz de gerar espaço fiscal para políticas na educação, na saúde, na segurança pública, na mobilidade, na infraestrutura, o Brasil não vai se desenvolver”.

Rands defendeu que o programa vai “ao encontro das necessidades da população”. “O povo foi às ruas em junho de 2013 e parece que tem muita gente que esqueceu quais eram as reivindicações.” / COLABORARAM ANA FERNANDES, CARLA ARAÚJO e WLADIMIR D’ANDRADE 

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