Ex-major cita empresário ligado à crime na ditadura

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Por Angela Lacerda e RECIFE
Atualização:

Um dos símbolos vivos da repressão em Pernambuco, o ex-major da Polícia Militar, José Ferreira dos Anjos, afirmou em depoimento à Comissão Estadual da Verdade na quinta-feira que o empresário Roberto Souza Leão, morto há quatro anos, integrou o Comando de Caça aos Comunistas (CCC), que perseguia os opositores ao regime militar. O empresário, segundo ele, teria sido beneficiado financeiramente pela relação que mantinha com o ex-presidente general João Figueiredo.De acordo com o ex-major, Souza Leão teve um projeto para instalação de uma destilaria de álcool na Bahia aprovado pela Superintendência do Desenvolvimento do Nordeste (Sudene) por interferência do general. "Foi quando ele se endinheirou, mas a destilaria nunca existiu", afirmou. O bom relacionamento de Figueiredo com o empresário se devia à admiração de ambos por cavalos. O pernambucano tinha criação de cavalos de raça e sua família mantém uma empresa de hipismo. A reportagem não conseguiu falar com a família sobre a acusação de Ferreira.O segundo integrante do CCC revelado por Ferreira foi um comerciante que teria o nome de Severino e que ele só recorda como Biu do Álcool. Biu seria analfabeto e morador de Vitória de Santo Antão, na zona da mata. Contrabandeava álcool e nunca teria tido problemas com a atividade ilícita pela amizade que mantinha com o general Antonio Bandeira, que comandou o III Exército. Os integrantes da Comissão Estadual da Verdade deverão checar as informações.Convocado pelo Exército, em 1969, para atuar na repressão aos opositores do regime militar, Ferreira destacou que "os oficiais recrutados para trabalhar no DOI-Codi (órgão de inteligência subordinado ao Exército) sabiam que era para matar ou morrer". "O clima era de terror e de guerra", disse. Ele nega, no entanto, ter atuado no órgão. "O ex-major Ferreira trouxe informações preciosas sobre o modus operandi do regime militar", afirmou o advogado e ex-deputado estadual Pedro Eurico, que integra a Comissão Estadual da Verdade. "Ele esclareceu a relação siamesa de grupos paramilitares com os órgãos de repressão, incluindo vantagens financeiras", afirmou.

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