
21 de novembro de 2013 | 02h04
A Polícia Federal indiciou criminalmente o ex-diretor de operações e manutenção da CPTM, João Roberto Zaniboni, e o engenheiro Arthur Teixeira, controlador da Procint Projetos e Consultoria Internacional, apontado como lobista do cartel dos trens.
A PF enquadrou Zaniboni por corrupção passiva, lavagem de dinheiro, crime financeiro (manutenção de conta não declarada no exterior) e formação de cartel. Teixeira, por corrupção ativa e pelos outros delitos.
Também foram indiciados uma filha do ex-executivo da CPTM e o ex-diretor de obras e engenharia da CPTM, Ademir Venâncio de Araújo.
São os primeiros indiciamentos por corrupção realizados pela PF no inquérito aberto para investigar o conluio de multinacionais. A PF sustenta que Zaniboni e Venâncio "estavam associados para o recebimento de vantagens indevidas de empresas do Consórcio Sistrem (construção do trecho Capão Redondo/Largo 13 de Maio)".
Zaniboni entregou à PF cópia do depoimento que fez ao Ministério Público. Disse ter recebido por consultoria que fez a Teixeira antes de assumir o cargo na estatal. Venâncio refutou prática de cartel e corrupção. Disse que deixou o serviço público em 2001 e constituiu a Focco Tecnologia, que manteve contratos de "prestação de serviços" com a Alstom. "Os valores que recebi da Alstom (cerca de R$ 2 milhões) foram devidamente contabilizados na minha empresa, não saíram da Focco."
Ele afirmou que o dinheiro foi distribuído entre seus sócios, "nunca para políticos".
Os indiciamentos ocorreram na segunda-feira. Teixeira ficou em silêncio. Indignado, alegou não ter envolvimento com o cartel, muito menos com repasse de propinas.
Dossiê do Ministério Público da Suíça indica que Zaniboni recebeu US$ 836 mil na conta Milmar, de sua titularidade, no Credit Suisse de Zurique. Parte desse valor - US$ 103,5 mil - teria sido depositada em 2 de maio de 2000 por Teixeira, pela conta Rockhouse. A Suíça condenou Zaniboni por lavagem de dinheiro e aplicou multa a ele. Os procuradores de Genebra pediram "com veemência" interrogatório de Teixeira, que nega o papel de pagador de propinas.
Graduado pela Escola Politécnica da USP em 1959, aos 78 anos, Teixeira ostenta extenso currículo profissional dedicado a grandes empresas do setor ferroviário. Seu advogado, o criminalista Eduardo Carnelós, é taxativo. "O sr. Arthur nunca esteve envolvido com corrupção, jamais se prestaria a isso."
"Aos que, por má-fé ou ignorância, confundem a formação de consórcio com cartel, esclareço que as duas práticas não se equivalem", anota Carnelós.
O criminalista Luiz Fernando Pacheco, que defende Zaniboni e Venâncio, declarou. "Ao final do inquérito tudo restará esclarecido, acredito que não será aberta ação penal." / FAUSTO MACEDO
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