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Esquema tinha rede de empresas de fachada

PF suspeita que parte das dezenas de atividades do grupo de Cachoeira, em diferentes ramos econômicos, tenha sido usada para lavar dinheiro

Por Ricardo Brito , Rosa Costa e BRASÍLIA
Atualização:

O núcleo duro do esquema do contraventor Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira, criou 59 empresas em 45 diferentes ramos econômicos nas últimas duas décadas. Investigadores da Operação Monte Carlo, comandada pela Polícia Federal, descobriram que até fevereiro, quando a operação foi deflagrada, 37 dessas empresas continuavam ativas na base de dados da Receita Federal. A PF suspeita que boa parte das empresas tenha sido usada para lavar dinheiro das atividades ilícitas do contraventor. O organograma feito pela polícia aponta que Cachoeira e outras oito pessoas do seu círculo íntimo de parentes e amigos expandiram a estrutura do grupo para além de Goiás e do entorno do Distrito Federal, onde concentraram a atuação. A maior parte das companhias ativas (30) opera em Goiás e no DF, mas o grupo também mantém empresas em São Paulo (2), Paraná (2), Rio de Janeiro (1), Minas Gerais (1) e Tocantins (1). O grupo também já teve operações em Santa Catarina e Rio Grande do Sul. A diversidade dos ramos de atuação do grupo impressiona. Destacam-se uma fundação cultural, três rádios, consultorias empresariais e na área de tecnologia, um restaurante, uma fábrica de medicamentos, uma empresa de criação de bois, uma incorporadora imobiliária e uma construtora. Segundo a PF, Cachoeira e oito pessoas controlavam as empresas. Dois irmãos do contraventor, um ex-genro, um ex-cunhado, a ex-mulher Andrea Aprigio, e dois homens da sua estrita confiança, o braço direito Lenine Araújo de Souza e o tesoureiro Geovani Pereira da Silva - este foragido. Escutas telefônicas feitas pela PF revelam que o contraventor controlava de perto as atividades. Numa gravação de maio do ano passado, Cachoeira demonstra numa conversa com sua atual mulher, Andressa, preocupação com a eventual separação do ex-cunhado Adriano Aprígio. "Os trem (sic) tá tudo no nome dele", disse a ela, que chamou o episódio de "bomba". "Que coisa boa, hein?", responde Andressa. Já o contraventor não reage com tanta tranquilidade. "Pois é, tem que ver como faz lá." Sigilo. O senador Randolfe Rodrigues (PSOL-AP) afirmou que é "inevitável" que a CPI do Cachoeira, prevista para ser criada amanhã, quebre o sigilo de todas essas empresas. "Eu acho que uma investigação séria deve, logo após o depoimento dele, quebrar o sigilo bancário e fiscal de todas essas empresas", disse. Randolfe suspeita que haja um sistema de financiamento de campanha de políticos que atuavam em favor das empresas do grupo. "É isso que está se caracterizando", avaliou. Além de se valer de pessoas próximas para movimentar dinheiro sujo, a PF também está de olho nas empresas de fachada controladas pelo contraventor. A polícia já descobriu que duas empresas, a Brava Construções e a Alberto & Pantoja, têm sócios com vários CPFs, que declaram endereços incorretos e nem sequer possuem capacidade financeira para serem empresários. Segundo a PF, as duas empresas movimentaram milhões de reais de recursos do grupo.

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